spoiler visualizarSander 29/05/2020
Humano extraviado
Ler Bartleby hoje em dia é perceber a atualidade da temática abordada na obra. É impossível não olhar para Bartleby e perceber as cascas que vemos na sociedade hoje em dia. Pessoa que perderam seu rumo, frutos da máquina capitalista, escravos de algo já mostrado brilhantemente por Chaplin em Tempos Modernos: a mecanização e automação.
Bartleby é um escrituário que responde "eu prefiro não fazer" para tudo. No início, ele começa se negando a conferir os documentos que ele copiava (ele era copista). Seu patrão tenta entender o homem, mas sem sucesso. Depois, ele se nega a trabalhar. Fica o dia inteiro atrás de seu biombo, olhando para uma parede. Porém, ele também se recusa a sair dali.
Apesar da narrativa ser até um pouco cômica às vezes, o leitor sente uma angústia ao tentar entender Bartleby e seus propósitos. O mundo para ele não advém da criatividade de viver, de mudar conforme as circunstâncias, de ter a possibilidade de escrever uma carta para alguém, mesmo sendo ela extraviada. É a verdadeira figura mitológica de Janus: por um lado, alguém que luta contra um sistema. Por outro, alguém que foi destruído por essa mesma máquina.