Rolando.S.Medeiros 04/05/2024
Bingo de Horror/Fantasia/Sci-fi do Reddit 2024~2025
Dreams: Read a book where characters experience dreams, magical or otherwise. [Modo Fácil: Sonhos Místicos/Macabros]
Eu não sou de participar desses desafios, tenho um ritmo de leitura muito particular. Mas, como esse ano tenho lido muita teoria e livros “obrigatórios”, e já há um tempo percebi que releguei aqueles livros que me iniciaram na literatura — horror, fantasia e ficção científica — resolvi aderir.
Peguei, portanto, esse aqui — que já havia começado e largado, há algum tempo, para ler outras coisas. Não esperava que fosse bom (sabe como é… livro derivado de série de tv), e não foi, mas me enganou por umas cem páginas.
Foi o revés do que aconteceu quando eu assisti a série e percebi o quanto ela era melhor do que esperava e como muita das coisas que eu gostava estava imerso em Twin Peaks (Life is Strange — quando era mais novo —, Persona, Silent Hill, True Detective, Mindhunter, Mare of Easttown… — mais atualmente).
O mistério todo em torno de Laura Palmer é incrível, magnetizante, mas o mais interessante é como ela — ou seu cadáver — faz toda a trama gravitar em sua direção ou orbitá-la; e com isso vai desencadeando um monte de personagens e movendo um monte de subtramas tão boas e únicas quanto a principal: quem matou Laura Palmer?
Na verdade, Twin Peaks (a cidade e seus mistérios) que é, de fato, o centro de tudo. O toque surrealista e sobrenatural é a cereja do bolo.
‘‘The one leading to the many is Laura Palmer. Laura is the one.’’
O livro tem a forma de diário, e começa quando Laura o recebe de presente no aniversário de doze anos. Se estende, entre idas e vindas, até os dezesseis. O ponto do livro, e por isso é escrito pela filha do Lynch (Jennifer), é conciliar e mostrar o tormento de Laura, uma garota que inicialmente dá pulinhos ao ganhar um pônei do amigo do pai, com os pesadelos macabros e os mistérios que vê na Floresta de Twin Peaks. A menina de ouro da cidade, idealizada por todos, que ao longo de quase todo o livro pensa em suicídio.
Por exemplo, com a diferença de poucas páginas se alternam a autodescoberta do prazer, a primeira vez que traga um cigarro de maconha… com isso aqui: "Provavelmente eu serei um presente para Satã, se não me cuidar. Às vezes, quando tenho de ver Bob, penso que estou com Satã, e que nunca me livrarei da floresta a tempo de voltar a ser novamente a boa, verdadeira e pura Laura."
Os pesadelos, os abusos e a tortura que sofre em sonho e que levam-na à prostituição e ao vício e a outros problemas mais (físicos e psicológicos) apontam para um abuso real, que pode ter acontecido mais cedo ou ainda (escondido entre toda simbologia e surrealismo) durante o livro. Como na série televisa, há poucas respostas claras. Tudo o mais são pistas. Responde algumas coisas para quem assistiu a primeira temporada, mas no fim acrescenta mais uma camada de mistério. O que (ou quem) é BOB? Que é aquele plano místico da floresta? Tudo é sobrenatural de verdade ou é imaginado — ou uma mistura dos dois?
Enfim, eu cedo alguns pontos ao livro por ter coragem. A autora escreve algumas péssimas e outras boas cenas; o estilo, porém, é uniformemente ruim ao longo de todo o livro. Certas cenas hoje em dia seriam alvejadas por todos os lados. Tem sexo (hétero e homossexual) entre menores e adultos, cenas de puro sadismo e abuso explícito. Drogas, orgias, prostituição e tráfico. É uma loucura, principalmente a reta final quando Laura se vicia em cocaína. Mas… a prosa banal e a péssima tradução me puseram frio diante do texto.
É um indicativo e tanto que a Laura da série seja "melhor": a personagem já está morta desde a abertura do primeiro episódio.
E ainda sim, lá na série, ela me compadeceu muito mais e fez com que eu me identificasse muito mais com ela que aqui, neste texto onde "formalmente" é a Laura mesma quem escreve. É melhor se ater à série e aos filmes mesmo, eu aconselho.
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