Rodrigo1001 02/08/2019
Essa resenha não cita Bukowski (Sem Spoilers)
Levou dois anos para que eu me sentisse dessa forma de novo.
Em 2017, tive que fazer uma resenha deveras polêmica sobre um livro de Neil Gaiman. Assim como naquela ocasião, me sinto em uma sinuca de bico com "Pergunte ao Pó", segundo livro e magnum opus do escritor norte-americano John Fante.
Não faltam fãs e resenhas por aí exaltando o livro, não faltam autores citando a obra como revolucionária, não faltam elogios, reviews entusiasmados e rasgação de seda - tanta, que me senti praticamente obrigado a comprá-lo e tirá-lo da estante na primeira oportunidade.
O resultado? Conflito.
Vamos lá!
Primeiramente, o grande destaque da obra é o estilo de escrita de Fante. Cru ao extremo, tortuoso, pouco ortodoxo, caótico e ácido, é fácil identificar a fúria e a agressividade nos parágrafos. Cuspindo as palavras com a rapidez de uma metralhadora, o leitor é imediatamente arrastado para a história e só sai de lá depois da última página. E isso é total mérito do autor, essa prisão que ele mesmo constrói, prendendo-nos lá dentro. Sozinhos. Acuados.
Então, se você está procurando um livro agradável de ler, definitivamente não é esse. Esse livro vai te arrebentar os nervos, vai provocar raiva, despertar ojeriza, vai criar revolta, vai revirar teu estômago.
Se isso é positivo ou negativo, deixo a seu critério avaliar.
Livro de poucos personagens, o principal se chama Arturo Bendini. Um escritor de Los Angeles com uma personalidade muito, mas muito exótica. Com uma forte inclinação para a autocomiseração, para o devaneio e para a auto-análise, a história acontece muito mais dentro da cabeça de Arturo do que fora. É ali o lugar da revolução. Com um estilo convulsivo na melhor vibe estica-e-puxa, bate-e-assopra, Arturo divide o livro com Camila, uma garçonete que interage com o escritor em praticamente todo os momentos, causado uma catarse experimentada pelo leitor através das diversas emoções transmitidas pelo relação entre eles.
Então, se você procura um livro que discorre sobre um relacionamento ideal, onde você doa e recebe na mesma proporção, com afeto e carinho, desista. Esse livro é uma história agridoce, que, como sempre acontece com Fante, nunca se torna sentimental
E, de novo, se isso é positivo ou negativo, deixo a seu critério avaliar.
Em um outro prisma, o livro lembra vagamente o fantástico Servidão Humana, de Somerset Maugham, tamanha a co-dependência e opressão que orbita entre os personagens. Causa tanto mansidão quanto cólera. Causa, na verdade, reações das mais diversas.
Se isso é positivo ou negativo...
Bem, você já sabe.
Enfim, em resumo, a sentença está em suas mãos. E não há como ser diferente: em um livro com tanta dubiedade, mesmo os pontos negativos podem se tornar positivos. E vice e versa.
Confuso? Bem-vindo ao conflito.
Leva 3 de 5 estrelas. E se isso é positivo ou negativo... ah, deixa pra lá! ?