Maria - Blog Pétalas de Liberdade 29/01/2016Um jovem escritor Eu quis ler esse livro por já ter visto o nome de John Fante (1909 - 1983) ser citado como referência por outros autores que li, e que me deixaram curiosa para conhecer a obra dele. A nova edição lançada ano passado pela José Olympio também contribuiu para meu interesse em "Pergunte ao pó", já que tem uma capa linda e colorida.
A história se passa nos Estados Unidos, na década de 1930, e é narrada por Arturo Bandini, um jovem na casa dos 20 anos que foi para a cidade com o sonho de ser um escritor. Arturo publicou um conto em uma revista (esse era o seu maior orgulho), e desde então seu objetivo era conseguir escrever um novo livro, que pudesse torná-lo famoso e proporcionar-lhe uma melhor condição financeira, para que pudesse pagar o aluguel de seu quarto no hotel e comprar alguma coisa para comer.
"Vamos lá, Bandini, encontre o desejo do seu coração, consuma a sua paixão do modo como ensinam os livros." (página 115)
Se eu tivesse que descrever o protagonista do livro em uma palavra, escolheria imaturo. Ele é tão imaturo que chegou a me irritar diversas vezes. E eu digo que, definitivamente, se fosse me dada a oportunidade de conviver com ele e de ser sua amiga, eu diria: "Não, obrigada!". O que Arturo faz quando ganha algum dinheiro? Compra um monte de roupas novas, que depois ele nem usa pois as roupas novas lhe incomodam e ele prefere as velhas e gastas, porém confortáveis. Em um instante, ele se acha o máximo, um gênio, a última bolacha do pacote, e quer que todos o reverenciem, já que escreveu um conto que foi publicado numa revista, no instante seguinte ele já se sente um miserável. Creio que a maioria das pessoas passe por fases assim, de oscilação de humor e de percepção sobre si mesmo, mas o Arturo Bandini exagera!
A história foi escrita em 1939, então é esperado que a sociedade daquela época seja diferente da dos dias atuais, mas isso não fez com que me sentisse menos incomodada com a forma como Arturo tratava as mulheres e com seus preconceitos, se achando melhor do que os outros quando ele mesmo podia ser vítima de preconceito. Por causa de sua imaturidade, seu relacionamento com Camilla, uma garçonete que conheceu em um bar e por quem Arturo se apaixonou, seria cheio de desavenças e idas e vindas. Mas também foi por causa desse relacionamento estilo amor bandido, que pude perceber que Arturo evoluiu ao menos um pouquinho, quando parou de olhar só para si e precisou cuidar de alguém. No final do livro, meu nível de simpatia por Bandini aumentou consideravelmente.
"- Arturo - falou. - Por que brigamos o tempo todo?" (página 142)
"- Vai se encontrar comigo! Sua insolente empregadinha de cervejaria! Vai se encontrar comigo!" (página 133) Arturo Bandini ensinando como não conseguir um encontro com a pessoa por quem se está apaixonado.
A escrita do autor é realmente boa, a leitura dos capítulos fluía com facilidade, os personagens foram bem construídos e eu conseguia me sentir dentro da história. E, confesso, não era possível odiar Bandini completamente, afinal, seu amor pelas palavras e suas tentativas de fazer jus a seu título de escritor eram cativantes e contagiantes.
Como disse anteriormente, a capa é linda! O título e o nome do autor estão em alto-relevo. Há pouquíssimos erros de revisão, as páginas são amareladas e bem grossas, a diagramação traz letras e espaçamento de bom tamanho, as margens externas são um pouco pequenas, mas nada que atrapalhe a leitura.
"Assassino ou barman ou escritor, não importava: seu destino era o destino comum de todos, seu fim o meu fim; e aqui, nesta noite, nesta cidade de janelas escuras havia outros milhões como ele e como eu: tão indistintos quanto folhas de grama. Viver já é duro. Morrer era uma tarefa suprema." (página 150)
Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a sugestão para quem quiser conhecer a escrita de John Fante, escritor que influencio autores como Charles Bukowski (é dele o prefácio do livro), sugiro também para quem quer viajar no tempo até os anos 1930, quando a segunda guerra mundial estava apenas começando e para quem gosta de livros com personagens escritores.
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