PorEssasPáginas 01/04/2013
Resenha: Belo Desastre - Por Essas Páginas
Resenha original em http://poressaspaginas.com/resenha-belo-desastre
Devo dizer que a sinopse desse livro é muito melhor que o livro em si. E o título - Belo Desastre – é bastante apropriado porque o livro é realmente um desastre, mas no péssimo sentido (parece que esse trocadilho faz sucesso por aí, mas é impossível não usá-lo aqui). Fazia um bom tempo que eu não ficava com tamanha raiva de um livro, com tanta vontade de jogá-lo na parede, de pisar em cima e de xingá-lo até ficar rouca. Fiquei tão brava que só dei uma estrela a ele e até isso a contragosto porque ele não merecia nenhuma. Quer saber por que eu detestei tanto esse livro que, afinal, é um best-seller tão bem falado por aí? (cof cof lembrando que ser um best-seller não é sinônimo de qualidade) Já vou avisando que não vou ser boazinha nessa resenha.
Todo a história desse livro – toda mesmo – gira em torno de um único personagem: Travis Maddox. Travis é um bad boy: Abby o conhece em uma das suas lutas, onde ele ganha o dinheiro para pagar suas contas de casa e da faculdade. Sim, é assim que as pessoas ganham dinheiro aqui: com lutas, apostas ou pedindo ao papai. Ninguém trabalha nesse livro. Ninguém mesmo. Mas, voltando ao Travis, ele é tudo que Abby diz que deveria evitar: ele é mulherengo, violento, canalha, atrevido, com o ego do tamanho do Maracanã, trata mal as mulheres e ainda por cima se envolve nessas lutas em que rolam apostas e todo tipo de coisa. Mas isso é apenas a superfície de Travis: quando ele é mais aprofundado no livro, ele é muito, muito pior.
Travis também é um cara inseguro, egoísta, impulsivo, possessivo, machista, nervoso, explosivo… bem, a lista é longa. É difícil falar desse livro sem falar desse personagem porque o livro acontece ao redor dele; até mesmo quando ele não está em cena é dele que se está falando, e todo mundo mesmo na história fica esperando novos movimentos dele. Isso é completamente irritante e me fez detestá-lo ainda mais. O mundo não gira em torno de uma única pessoa, nem mesmo em um livro. Na verdade, Belo Desastre poderia muito bem se chamar Travis Maddox. É incrível porque nem livros que levam o nome do personagem no título são totalmente sobre o personagem título; mas esse livro é. E um grande motivo pelo qual odiei o livro foi por ter também odiado Travis e as duas coisas estão relacionadas demais para serem separadas.
A história é narrada por Abby, uma garota aparentemente sem atrativos que Travis carinhosamente colocou o apelido de Beija-Flor ou apenas Flor. Até que foi bonitinho nas primeiras páginas, mas de tanto ser repetido se tornou um apelido cansativo e brega. Ele jamais chama a menina pelo nome. Eu acho bonitinho quando meu marido me chama por um apelido carinhoso, mas às vezes gosto de ouvir meu nome nos lábios dele. Bem, isso não acontece no livro: Travis parece não saber qual é o nome da moça.
Voltando à Abby, ela nos é apresentada como uma garota certinha, independente, cabeça-feita, decidida. Sinto desapontá-los, mas ela não é nada disso. No começo ela até me enganou direitinho e eu realmente pensei que ela fosse tomar atitudes diferentes; pensei que ela seria firme nas decisões que tomou, mas no final das contas ela é uma fraca, completamente encantada pelo Travis e tudo o que ele representa – que ela insiste em dizer que é exatamente o que ela deveria evitar. O pior de tudo para mim foi que ela brinca com os sentimentos das pessoas, até mesmo do Travis, mas também de outros personagens. Ela é o tipo de garota que detesto: aquele que joga com as pessoas e se finge de boazinha. Finge tanto que até ela mesma acredita.
O relacionamento de Travis e Abby começa como um furacão. Rápido demais eles se tornam super amigos, mas desde o começo é uma amizade colorida. Abby vai morar – sim, morar – e dormir na mesma cama de um cara praticamente desconhecido em questão de poucas páginas por um motivo ridículo e bizarro. Depois ela perde uma aposta e fica mais um mês com ele. Nesse ínterim ela sai com outro cara, sempre tendo Travis ao redor e aí que começamos a perceber como o cara é um babaca possessivo. Quando os dois finalmente resolvem admitir que estão apaixonados e ficam juntos, o livro começa a ficar pior – se é que isso é possível.
A relação dos dois é doentia. Não há outra palavra para descrever. O livro descreve tudo isso como amor e paixão, mas acho que a autora está muito longe de entender esses sentimentos. O que Travis, principalmente, e Abby, em menor grau, sentem é nada mais nada menos que um sentimento doentio de posse. Travis trata Abby como uma propriedade, mesmo quando não está com ela (porque os dois vão e voltam, ficam juntos e se separam um milhão de vezes no livro, outra coisa muitíssimo cansativa); mas Abby também faz o mesmo, apesar de fingir que não. Isso não é amor, minha gente, isso é doença. Em muitos pontos esse livro lembra Cinquenta Tons de Cinza, só que sem a sacanagem repetitiva, um pouco mais bem escrito e para jovens. É o tipo de relação obsessiva que me assusta quando vejo pessoas querendo de verdade um cara como Travis ou Christian Grey em suas vidas. Não, gente, esse é o tipo de cara errado. Esse é o tipo de cara que as mulheres lutaram tanto para se libertarem, por tantos anos. Mulheres não são objetos nem propriedade de ninguém: são pessoas. Isso não é bonitinho, não é fofo. Isso é assustador.
Aliás, o livro é cheio de estereótipos idiotas. Travis é grandalhão, musculoso, forte e tatuado. Por que ele é um bad boy tatuado? Todo bad boy é tatuado no corpo todo? Eu acho que não. E também acho que não é porque uma pessoa é tatuada que ela é maluca/impulsiva/bad boy. E o livro afirma, nas entrelinhas, que é impossível a amizade entre um homem e uma mulher (a única exceção é se o homem for gay). Abby e Travis, no início, se dizem somente amigos mas a tensão sexual entre eles é enorme e no final estão apaixonados e cometem atos bizarros por isso. Abby se envolve com outro cara no meio do livro e quando você pensa que eles podem ser apenas amigos, não, não podem, porque o cara é apaixonado por ela (aliás, todo mundo quer comê-la - e não, eu não estou sendo pejorativa, isso é colocado no livro). O único amigo de Abby é Finch e ele é gay. Ah, sério? Eu tenho amigos homens, bons amigos, e não, eu não quero ficar com eles e eles não precisam ser gays para que sejam bons amigos – apesar de eu ter amigos gays e eles serem também bons amigos.
Há algumas tramas que acontecem paralelamente à história de Travis e Abby como o relacionamento de America e Shepley, a melhor amiga de Abby e o primo de Travis. Um relacionamento bem conveniente para a trama. America é tudo menos uma boa amiga: ela é infantil e mimada, coloca Abby em situações desconfortáveis por puro capricho e, apesar de conhecer o passado doloroso da amiga, America incentiva o relacionamento de Abby com Travis, mesmo sabendo que os dois são um desastre juntos, mesmo sabendo que Travis é exatamente o tipo de homem que Abby queria evitar quando se mudou. Isso não é amizade, é sabotagem. Quanto ao personagem de Shepley, em certo momento do livro, Travis o culpa por não proteger Abby quando, na verdade, foi Travis quem a colocou em perigo; esse é só mais um exemplo dos absurdos e incoerências presentes nesse livro. É como se a autora quisesse fazer de Travis um bom moço apaixonado e ao mesmo tempo um cara perigoso, mas ela não sabe como fazer isso. Travis faz coisas estúpidas e impulsivas, atitudes babacas e machistas, e tudo isso é perdoado após noites de sexo, surpresas fofinhas ou bons amassos. Esse tipo de coisa me fez sentir nojo de Travis em vários momentos.
Abby tem uma companheira de quarto que ela qualifica como chata e irritadiça, mas na verdade foi a única pessoa que falou algo decente sobre a relação de Travis e Abby no livro inteiro. Foi a personagem que mais gostei, apesar de ser uma personagem inútil que não tinha um motivo plausível de estar ali. Há vários personagens inúteis nesse livro. Sinceramente, o livro todo é inútil e de mau gosto. Uma total perda de tempo. Não recomendo para ninguém.
Eu tinha esperanças de que o livro fosse uma enorme ironia, que o final fosse me surpreender, mas nada disso. O final foi patético, absurdo e em certo grau, previsível. O livro é longo demais para poucas cenas que façam alguma diferença.
Belo Desastre tem uma continuação chamada Walking Disaster (Desastre Ambulante), ainda não publicada no Brasil, que basicamente é a mesma história, mas do ponto de vista de Travis. Não consigo imaginar um livro no ponto de vista desse personagem porque, para mim, ele não parecer ser o tipo de cara que pensa. De qualquer maneira, depois de Belo Desastre, a minha vontade de ler qualquer outro livro dessa série – ou mesmo da autora – é praticamente nula.