Egídio Pizarro 11/06/2016
Há muito tempo eu soube que "Forrest Gump", um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, havia sido baseado em um livro homônimo. Desde então eu tinha muita curiosidade em lê-lo, e finalmente consegui.
Eu já sabia que seu autor, Winstom Groom, não havia aprovado a adaptação por terem omitido certas tramas, além de terem suavizado as cenas de sexo e a linguagem. Eu entendia isso como um certo "ciúme" que ele tinha da própria obra, o que é bastante comum e compreensível. Porém as diferenças não demoram a se mostrar: logo no início o narrador (o próprio Forrest) afirma que com 16 anos já media 1,98m e pesava 121 quilos - o que é um contraste forte e bastante bizarro quando o Tom Hanks aparece na capa da obra.
As diferenças entre livro e filme crescem timidamente até a metade da leitura, quando se torna outra história (marcadamente a partir da aparição da NASA na narrativa), completamente diferente, onde o fato do protagonista viver situações inusitadas é a única semelhança entre um e outro. O tenente Dan, que no filme é um militar casmurro e orgulhoso, interpretado de forma brilhante por Gary Sinise, no livro é um sujeito bondoso e bastante dado à filosofia. No filme, Bubba é alguém com o intelecto bastante semelhante ao de Forrest. No livro, apesar da estreita amizade entre os dois, essa semelhança inexiste. Já Jenny Curran é melhor explorada no filme, onde tem um passado traumático, um tom marcante que fez falta na leitura.
O livro traz uma relação bem marcante entre Forrest e um orangotango chamado Sue. Não sei se os produtores do filme preferiram optar por distribuir essa relação marcante entre Forrest e outros personagens. O fato é que se mostrou uma opção melhor. Quanto à linguagem reclamada por Winston Groom, o estilo da narrativa me lembrou bastante o Henry Chinaski de Charles Bukowski, principalmente a partir da metade, um estilo completamente diferente da ingenuidade do Forrest Gump vivido por Tom Hanks. Por sinal, foi a partir da metade que, repentinamente, parei de imaginar a voz de Tom Hanks narrando o livro.
Um dos fatos que mais me faziam ter vontade de ler o livro é que, lendo curiosidades sobre o filme, fiquei sabendo que a fala do personagem quando o microfone é desligado durante o protesto contra a Guerra do Vietnã foi: "Às vezes, quando as pessoas vão para o Vietnã, elas voltam para suas mamães sem nenhuma perna. Às vezes elas não voltam pra casa. Isso é uma coisa ruim. É tudo o que eu tenho a dizer sobre isso." Eu achava que a fonte dessa curiosidade era o próprio livro e me indagava como o autor havia trabalhado essa cena. Qual não foi a minha decepção ao terminar o livro e não encontrar essa passagem...
Um outro detalhe marcante é que, no livro, Forrest Gump tem uma relação bastante íntima com a música, sendo um exímio gaitista - talento que aprendeu com Bubba. No filme, não há nenhuma relação marcante entre o personagem e a música. De certa forma, essa relação pode ter sido trabalhada pelos produtores de Hollywood através da trilha sonora, que é impecável - em todos os momentos da leitura eu cantarolava mentalmente "Running on empty", do Jackson Browne.
Enfim, livro e filme são imensamente diferentes, sendo um desses raros casos em que o filme é (bastante) superior ao livro. Não é uma leitura ruim. Pelo contrário, o final é bastante interessante. Mas a inevitável comparação com o filme tornou minha experiência um pouco decepcionante.