Otávio - @vendavaldelivros 24/05/2021
?Talvez o subproduto mais angustiante da revolução científica tenha sido acabar com muitas de nossas crenças mais acalentadas e consoladoras?.
O título do livro pode assustar e fazer parecer que nele entramos em debates profundos sobre astronomia, física e matemática. Que aqui, a conversa é difícil, cansativa e penosa para leigos. Mas só pensa isso quem não conhece nada de Carl Sagan. E azar do mundo que hoje existe sem a presença de Sagan.
Último livro de Carl Sagan e escrito com a colaboração de sua esposa Ann Druyan, Bilhões e bilhões reúne textos de Sagan sobre temas diversos sobre a ciência e a sociedade que o cercava no final dos anos 90.
O livro é dividido em três partes. A primeira traz textos de Sagan no seu melhor: A capacidade de transformar assuntos que envolvem matemática, física e astronomia em conversas de bar que tocam fundo em nossas próprias percepções da vida e do universo.
A segunda parte narra principalmente a preocupação de Sagan com o aquecimento global e as mudanças climáticas que já era claras na época. Soluções e explicações técnicas sobre como chegamos até aquele ponto (que ainda não era tão trágico quanto o atual) são preenchidas com o humor e a sagacidade de transformar textos que teriam tudo para serem monótonos em impossíveis de serem largados.
Por fim, a terceira parte contém um trabalho excepcional, atual e absurdamente necessário de Sagan sobre o aborto, bem como outros textos sobre o futuro da humanidade e sobre sua própria condição de saúde.
Carl Sagan talvez seja, de todos os autores que li e que já faleceram, o que mais lamento não estar aqui, hoje, sendo um farol necessário para os tempos sombrios que vivemos. Nenhum autor conseguiu me fazer contemplar a imensidão do universo como ele. Ninguém, nunca, conseguiu me tranquilizar sobre a vastidão do infinito como Sagan. Bilhões e bilhões é o canto do cisne de um dos maiores pensadores que a humanidade, torta e cambaleante conseguiu produzir. A prova de que somos, de alguma maneira, únicos. Basta apenas entendermos que precisamos todos nos comportar como um só.