Rute31 02/05/2024
Essa foi uma releitura especial pra mim. A insustentável leveza do ser foi um dos livros, talvez o primeiro, que quinze anos atrás me tornou uma leitora mais atenta. Foi minha primeira grande revelação literária, por isso a relação que tenho com esse livro é muito preciosa pra mim.
A insustentável leveza do ser se concentra em quatro personagens e só deles desejamos conhecer o destino: Tereza, Tomás, Sabina e Franz. Um dia, uma série de coincidências — incluindo um nervo ciático — fazem com que Tereza conheça Tomás e ele se sinta apaixonado por ela. Cinco anos atrás (portanto, dez anos depois da primeira leitura) eu tornei a ler esse romance e me senti de novo diante de uma revelação. Não foi diferente desta vez: a cada vez encontro um novo romance.
É novo o jeito que vejo Tomás, (a primeira vez um idiota, a segunda um modelo, a terceira apenas um homem profundamente infeliz) e Tereza (a primeira vez uma mulher muito fraca, a segunda vez alguém que eu conseguia compreender, a terceira vez um corpo construído sobre a vertigem). É outro o jeito que vejo Franz, tão interessante antes, com sua fidelidade arraigada — não pela esposa, mas pela amante, que via como deusa — mas que nessa leitura me pareceu um homem que, apesar da força física, “não tem a menor vontade de lutar” e gostei mais dele por isso. E Sabina, a cada leitura se mantendo como a personagem mais interessante, aquela a quem múltiplas camadas envolvem. A única a quem, aliás, não nos é dado compreender como deixou de Ser.
É com ela, Sabina, que entendemos aliás o peso das palavras incompreendidas, a partir de sua relação com Franz. As vidas dos personagens, uma intrincada caminhada por vielas que não passam de coincidências. Os pássaros do acaso sobre os ombros.