Aline T.K.M. | @aline_tkm 10/01/2021Duas amigas, duas vivências femininas bem diferentesUma narrativa negra que me transportou lá para a cidade nigeriana de Lagos. Tudo de Bom Vai Acontecer, de Sefi Atta, foi uma surpresa - tocou fundo, doeu um tantinho e ensinou outro tanto.
De 1971 até meados dos anos 90 vemos o amadurecimento de Enitan, uma protagonista que aos poucos encontra seu lugar e sua luta na sociedade machista da Nigéria. Como pano de fundo, as consequências da Guerra de Biafra.
A trajetória de Enitan rumo à emancipação é marcada pela percepção dos próprios privilégios por pertencer a uma família de classe média e pela descoberta de um grito feminista dentro de si, bem como pelo entendimento da própria dinâmica familiar (pai controlador, mãe incompreendida). Além disso, a maternidade também é uma questão importante aqui, tocando a vida das personagens femininas de maneiras bem diversas e muito significativas.
Ponto crucial do livro, a amizade entre Enitan e Sheri - de classe e estrutura familiar diferentes - permeia toda a história. Elas vivenciam de forma distinta o ser mulher nessa sociedade e, ainda que contrastantes, suas vozes se complementam. Desabafo: queria ter visto mais dessa amizade e da Sheri, uma personagem interessantíssima.
Desigualdades de gênero, violência, cultura do estupro, a dominação masculina, o papel social da mulher (e a recusa de Enitan a cumpri-lo), as instabilidades políticas, a perspectiva outra de uma sociedade africana que não aquele retrato reduzido à miséria e à fome. Isso tudo é recheio da trama de Tudo de Bom Vai Acontecer, e, preciso dizer, que recheio!
Até mesmo a relação de altos e baixos que experimentei com TODOS os personagens me ensinou um bocado sobre narrativas heterogêneas, combates pessoais e uma cultura em parte desconhecida para mim.
Se tenho por objetivo sair das minhas leituras diferente de como entrei, então aqui posso dar um "check" de missão cumprida!
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