Fabio451 26/03/2022
Acabo de finalizar a leitura mais demorada e trabalhosa nesse 2022. Não que fosse a obra mais longa e difícil que encarei neste inicio de ano, mas por algum motivo eu não consegui engajar tão facilmente neste ?O Silêncio das Montanhas?, do autor afegão Khaled Hosseini. É a segunda obra do autor que leio, após o sucesso ?O caçador de pipas?, que li há muitos anos atras.
Acredito que seja uma questão de gosto pessoal mesmo, mas não consigo me conectar tanto com as histórias escritas pelo autor. Não que sejam mal escritas, muito pelo contrário. O autor tem uma sensibilidade muito tocante ao escrever sobre a cultura afegã e este país tão sofrido e maltratado, que se tornou um joguete nas mãos das superpotências durante a guerra fria e depois.
Este, aliás, é o ponto que mais gosto neste livro: o autor aborda muitos detalhes sobre como era a vida dos afegãos antes, durante e depois dos acontecimentos dramáticos que jogaram o país no meio do conflito entre as superpotências no final da década de 70 do século XX e os posteriores desdobramentos, até nos trazer ao século XXI.
Falando sobre a obra, o autor retrata dois irmãos pequenos vivendo em uma pequena aldeia afegã no início dos anos 50 e os desdobramentos de suas vidas ao longo de meio século. Não vou retratar detalhes da história, mas um detalhe interessante que acabei apreciando, ainda que tenha achado um pouco confuso é o fato de o autor alternar entre diversos narradores sem uma cronologia específica e declarada. Não há aquele prefácio em cada capítulo, informando ?cidade tal, dia tal, ano tal?. A narrativa inicia-se sem que você saiba quem é o narrador, onde ele está e nem em qual época. Tudo isso vai sendo desvelado aos poucos durante a leitura, até que se consiga fazer a conexão de onde está a história e como esse fato se conecta com o restante da narrativa.
Um outro ponto bastante legal, é que a narrativa avança sempre tendo como narrador um personagem pessoa diferente do personagem principal naquele momento. Quase sempre os detalhes da história são fornecidos por um personagem secundário e por muitas vezes sem uma conexão direta com a narrativa principal, quase como se ficasse sabendo das histórias por um terceiro que o informa.
Acho que um dos pontos que me pega um pouco nas histórias do autor é que há sempre uma melancolia latente em todos os personagens, com uma sensação de que ninguém pudesse ser de fato feliz, mesmo os personagens felizes na história. Talvez seja um reflexo do próprio autor, que explora em suas obras toda a tristeza e o sofrimento que se abate sobre o povo afegão, mas confesso que é uma sensação que mina bastante a minha empolgação com a leitura. Não consigo avançar por muito tempo na história, preciso de fazer pausas sucessivas, para não me deixar levar por essa energia melancólica, para respirar e não ficar também melancólico.
Mas não é um livro ruim, é uma leitura rica, cheia de detalhes, que dá uma dimensão da realidade vivida pelas pessoas no país, a tristeza, as circunstâncias que minam a capacidade do país em se estabilizar, e personagens cheios de nuances e facetas. Apesar de triste e melancólica, é uma leitura recomendada. Nota 3,5/5.