Belle 19/03/2014Obsessão foi um livro que me interessou pela capa e, logo depois, pela sinopse. Eu gosto de capas que não sejam muito óbvias, especialmente quando o tema é BDSM, e que tenham um quê de sofisticação. A sinopse, por sua vez, de cara, me prometeu uma série sobre três machos alfas MA-RA-VI-LHO-SOS, focando principalmente em Gabe e a irmã mais nova do seu melhor amigo. A premissa me pareceu ótima, apesar de eu não ser muito fã de diferenças tão grandes de idade (Gabe é 14 anos mais velho), mas, a questão do “fruto proibido” me pareceu boa demais para eu ser preconceituosa.
Mia é apaixonada por Gabe desde… Bem, desde sempre! Mas, ele nunca a viu como nada além da irmãzinha mais nova de Jace; sempre tratando-a com carinho, mas, mantendo a distância, pelo menos é o que ela acredita. Só que, em determinado momento, ele parou de vê-la como uma menina e passou a enxergar a mulher em que ela se transformava, esperando até que ela tivesse idade suficiente para entender e aceitar o tipo de coisa que ele exige na cama.
Aos 38 anos, Gabe está cansado de esperar e decide que já é hora de ter Mia. Em uma festa da HCM (empresa que ele divide com o irmão dela e o Ash, um outro amigo deles), ele a tira para dançar e acaba arrastando-a para o terraço do hotel, “atacando-a” com um beijo e deixando claro que não a vê como uma irmãzinha. Depois do beijo brutal, ele exige que ela vá ao escritório dele no dia seguinte e a manda para casa. Pois é! No melhor (ou seria pior?) estilo “Beija e Dispensa”.
Quando Mia aparece no escritório de Gabe, ele vai direto ao ponto e diz o que quer dela: um relacionamento estritamente sexual regulado por um contrato. Ah, e não podemos deixar de fora o fato de que Gabe é um Dominador, então, o contrato é bem explícito ao dizer que, caso ela aceite, ele será o dono dela. Mia fica meio assustada, mas, é bem óbvio que ela vai aceitar. Afinal, ela esperou o cara a vida inteira. Ela aceitaria qualquer coisa dele. Até uma merda dessas.
As comparações com Cinquenta Tons são obviamente naturais, mas, aqui nós não temos nenhum trauma profundo que dite as predileções do Gabe. Na verdade, o estilo de vida BDSM sempre fez parte de quem o Gabe é. Ele gosta do sexo assim e ponto. Mas, o contrato é algo que ele passou a exigir depois de ter sido profundamente magoado pela ex-mulher, que o expôs como se fosse um monstro, alegando que ele forçou as práticas com ela. Então, o cara nunca mais entrou num relacionamento sexual sem estar seguro por um contrato.
Logo na proposta do Gabe eu percebi que o livro não era como eu esperava. O BDSM seria mais forte do que eu imaginei pela sinopse e a relação entre ele e a Mia seria frustrante e óbvia. Ela apaixonada, ele relutando. Até aí, tudo bem pra mim, porque, quem encarou três volumes de Cinquenta Tons consegue encarar mais do mesmo… Mas, eu não estava preparada para o tipo de merda que o Gabe faria nessa relação.
Sério, acho que eu nunca detestei tanto um personagem. Aliás, ele e a Mia estavam disputando para ver quem me irritaria mais.
A questão é a seguinte: o Gabe fazia merda, passava dos limites, e a Mia perdoava e seguia adiante, ele cagava tudo de novo e ela engolia, bola pra frente… Até que ele fez uma merda tão grande que eu falei “Ahhh, agora sim ela chuta a bunda desse imbecil!”, mas, adivinhem?! Ela o PERDOOU! Ali eu me revoltei, joguei o livro pro alto, xinguei todos os palavrões que eu pude lembrar e fui tomar um banho pra espairecer. Enquanto relaxava debaixo da água quente, acabei tomando uma decisão: me distanciar. Eu tenho essa mania de me ligar aos personagens, rir, sofrer, me envergonhar, amar, tudo juntinho com eles. Mas, percebi que pra encarar esse livro até o final eu teria que lidar com ele da forma correta: como leitora e não como uma personagem terciária.
Eu jamais poderia concordar ou achar bacana a ideia de relacionamento que o Gabe tem: a de controlar e ser dono de outra pessoa. E nunca poderia achar que a Mia tomou uma ótima decisão ao assinar aquela merda de contrato e se prestar às coisas que o Gabe exigia, então, eu precisava me desligar daquilo e apenas ler sobre dois personagens que achavam super normal assinarem um contrato que estabelecia como seriam suas vidas sexuais. Só pra demonstrar um dos motivos que me deixaram estarrecida com essa história foi o fato de que o Gabe contratou a Mia como sua assistente pessoal para poder foder com ela quando quisesse durante o expediente, o que foi uma puta falta de respeito com ela e com o irmão dela, que trabalha junto com ele, além de uma falta de ética sem tamanho! E o mais absurdo é que a Mia se prestou a isso!
O problema é que ela é tão louca por ele que teria aceitado qualquer coisa! Qualquer migalha que ele atirasse para ela. E aceitaria com um sorriso enorme no rosto. A Maya Banks ainda tentou dar uma de que “não, a Mia gostou do estilo de vida dele. Ela estava gostando de tomar uns tapas e umas chicotadas e de trabalhar pra ele com um plug anal o dia inteiro”, mas, não me convenceu. Essa filosofia do BDSM que diz que o poder na verdade está com o subordinado simplesmente não colou nesse livro, porque a Mia não tinha poder nenhum. O Gabe faz o que quer, na hora que quer, literalmente, fode com tudo e, apesar de saber que está errado tratar a Mia daquele jeito, ele simplesmente não faz nada pra mudar.
E, pra Mia tá tudo bem! Quando ele faz merda, tá tudo bem. Quando ele percebe que fez merda e dá uma aliviada na forma de tratar ela, ele é um deus! E, quando ele faz merda de novo, tudo bem também!
Enfim, eu não sei bem porque fiquei tão irritada com esse livro, já que encarei Cinquenta Tons numa boa e até curti a Ana e o Christian, apesar de os dois também terem suas cotas de “perdões” e “merdas”. Mas, acho que eu sempre vi a Ana lutando contra a dominação mais brutal do Christian, ela até gostava de umas brincadeiras, mas, quando a coisa ficava pesada, ela o colocava no devido lugar e ele acabou se adaptando para tê-la. Diferente do Gabe e da Mia, que não tinham equilíbrio de controle nenhum. Ela nem ao menos sabia se podia recusar alguma coisa, se podia ver as amigas, ou o irmão. E ele estava sempre se censurando, sabendo que estava agindo de modo errado, mas, nunca tentando consertar, porque ela nunca exigia que ele se adaptasse…
Pensando melhor, acho que mesmo com minha decisão pós-banho, eu não consegui me “desligar” tanto assim, não é?
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http://www.itcultura.com.br/2014/03/obsessao-maya-banks