Jaqueline 16/12/2013Bridget Jones casou, teve dois filhos e está de volta em “Bridget Jones - Louca pelo Garoto”, obra da autora inglesa Helen Fielding. Publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras, a obra causou polêmica entre os fãs da querida solteirona: antes mesmo do livro chegar às lojas, a informação de que Bridget ressurgiria como a viúva de Mark Darcy deixou leitores de todo mundo decepcionados. Contudo, novos e divertidos dilemas surgem na vida da nossa protagonista, que precisa lidar com as decepções da sua nova faixa etária, a correria do cotidiano, novos dilemas amorosos e profissionais e a criação de um casal de filhos ainda muito pequenos para entender a dor de perder o pai.
Apesar das mil e uma trapalhadas de Bridget, que agora busca uma carreira como roteirista de cinema, eu achei “Louca pelo Garoto” um livro triste. Há um toque melodramático e sensível por trás de cada situação hilária em que nossa protagonista se mete, como seu relacionamento com um homem de trinta anos de idade que ela conhece pelo Twitter, o divertido e fofo Roxby (ou melhor, @Roxster). Daniel Cleaver, agora padrinho dos pequenos Mabel e Billy, continua com suas tiradas obscenamente charmosas, mas precisa lidar com seus próprios problemas. O inseparável trio Tom, Talitha e Jude continua ao lado de Jones, incentivando a amiga a seguir com a vida após um luto de quatro anos, e é com base nas redes sociais e nos perfis risíveis de diversos sites de namoro que a autora cria as melhores tiradas do livro, repleto de referências atuais que nos deixam mordidas de “inveja”, como a boa forma de atrizes famosas em tapetes vermelhos e o casal real Kate e William (“um jovem casal perfeito, da idade do Roxster, começando a vida, fazendo tudo de um jeito perfeito, no momento perfeito” [pg. 356]).
Sim, eu fiquei decepcionada quando li sobre as escolhas da autora com relação a Mark Darcy. Assumo que até pensei em ‘boicotar’ “Louca pelo Garoto”. Agora, finalizada a minha leitura, busco compreender o que deve ter passado na cabeça de Helen Fielding ao escolher este rumo para sua obra. Em “Louca pelo Garoto” conheci outro lado de Bridget Jones, um lado esperançoso e batalhador, que não desiste e que se mantém na luta por mais que tudo pareça estar indo ladeira abaixo – o bom e velho “Reconhece a queda, mas não desanima/ Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Bridget não desiste nunca, e é por isso que nós a amamos.
Jones é uma heroína do cotidiano, uma viciada em Coca Zero, uma mulher como nós. Ela passa por situações vexatórias na frente do professor dos filhos, o autoritário e charmoso Sr. Wallaker, e enfrenta a solidão de uma cama vazia após tantos momentos felizes ao lado do homem que a amou do jeito que ela era. Jones encara a absurda pressão para ser uma mãe perfeitamente paciente e amorosa e uma profissional funcional e dinâmica. Um ponto específico, porém, chamou a minha atenção: a questão do seu envelhecimento. Se a seara amorosa já estava ruim para ela aos trinta e poucos, imagine agora, quando contabiliza 51 anos e sofre com o rótulo da meia-idade e a responsabilidade pelo bem-estar de duas crianças. Quase todos os atributos que a sociedade valoriza em uma mulher – juventude, beleza e disposição – já foram ou estão indo por água abaixo, e os homens de mesma idade geralmente estão atrás de uma mulher anos mais jovem, com seios empinados e cintura fina. Nesse sentido, algumas reflexões da protagonista são de uma lucidez profunda e tocante:
“(...) fui vagando até o banheiro feminino, onde me examinei sob a luz dura e implacável de uma lâmpada. (...) o queixo e as bochechas estavam flácidas, meu pescoço igual ao de um peru, eu tinha um bigode chinês do da boca até o queixo, parecia a Angela Merkel. Encarando meu próprio rosto, quase conseguia ver meus cabelos ficando grisalhos. Finalmente, tinha acontecido. Eu era uma velha.” (pág. 332)
Se eu acho que este foi um livro desnecessário? Acho, definitivamente. Mas, por outro lado, reconheço o potencial daquilo que li, ainda que a forma com que a história foi desenvolvida pela autora tenha me parecido rasa e bastante forçada em diversos momentos. É triste, é decepcionante, é um balde de água fria, mas são coisas que acontecem na vida e tornam um personagem mais humano e verossímil para o leitor.