Luan 01/07/2016
Fúria Vermelha despertou a fúria do leitor que vos escreve, apenas!
Distopia é um gênero que parece estar saturando de certa forma rápido. A explosão delas nos últimos seis anos desencadearam uma nova leva de leitores mundo afora, que não estavam acostumados com leitura, e, principalmente, este tipo de leitura. Jogos Vorazes, sem dúvida alguma, foi uma importante peça para difundir o gênero nestes últimos anos. Uma pena que ele também serviu para inspirar outras histórias, que vieram a seguir e pouco de novo trouxeram dentro desta modalidade da literatura. Um destes casos é Fúria Vermelha, que parecia ter tudo para mudar um pouco o conceito popularesco de distopia, mas trouxe apenas mais do mesmo.
Ao levar em consideração apenas a sinopse, a impressão que dá é justamente essa: de algo diferente. Mas não é o que acontece na prática. A história, além de distopia, junta a ficção científica, embora seja apenas um terço de todo o livro. A história vai nos contar que Marte, o planeta vermelho, já foi colonizado e está prestes a se tornar amplamente habitável. Em um futuro não tão distante, o homem vive no planeta em uma sociedade definida por castas. Darrow é um dos jovens que vivem na base dessa pirâmide social, escavando túneis subterrâneos a mando do governo, sem ver a luz do sol. Até o dia que percebe que o mundo em que vive é uma mentira, e decide desvendar o que há por trás daquele sistema opressor. Tomado pela vingança e com a ajuda de rebeldes, Darrow vai para a superfície e se infiltra para descobrir a verdade.
No entanto, acabamos presenciando, na realidade, uma revolta muito semelhante àquele vista em Jogos Vorazes, com vários ingredientes dos três livros em um só. Primeiro, vou falar do que eu achava, para depois comentar o que foi. Inicialmente, achei que se trataria, acima de tudo, de uma história política, onde o protagonista estaria infiltrado dentro da sociedade opressora que o mantinha preso nas profundezas de Marte. Essa foi a ideia. Porém, depois de um início chato mas promissor, vimos Darrow apenas protagonizando cenas de ação, com direito a muita luta e morte, tudo isso numa floresta, com outros vários jovens. Isso te lembra algo? Pois é!
Eu não sabia que haveria essa "disputa" entre jovens, com direito a morte e tudo mais, como foi em Jogos Vorazes, por exemplo. Me surpreendi ao me pegar lendo páginas que narravam isso. Me surpreendi especialmente porque anteriormente a intenção dos personagens era criar até uma espécie de rebelião depois desta infiltração que citei acima. Acreditava que haveria uma série de descobertas, revelações, a luta da periferia contra a sociedade em comando. Nada disso. O problema, ainda, foi que não ficou muito clara a intenção dos rebeldes em colocar Darrow para participar da competição, que para eles era a entrada dele a um Instituto, onde ele se prepararia para se tornar um líder naquela sociedade. Ficou confuso sim.
Estranho também ninguém saber que o Instituto era, na verdade, um matadouro. Não consigo entender como conseguem esconder isso, sendo que um ano depois de saírem dessa floresta, quase todos jovens que entraram vão sair mortos. Mas nem tudo são espinhos nesta rosa. Como disse, o início foi promissor. Apesar um pouco demorado e confuso, uma vez que o autor não é daqueles que usa as primeiras páginas para explicar como é aquele novo universo - e isso me agrada bastante. Conhecemos, inicialmente, os Vermelhos, os escravos daquela sociedade, que realizam perfurações no subsolo em busca de hélio3, para tornar o planeta habitável - o que já ocorria, mas eles não sabia. Ao final, é claro, também, que deu pra perceber nitidamente a ideia de crítica à atual sociedade feita pelo autor.
LISTA DE CLASSES
Ouros: Membros mais nobres da sociedade. Os mais fortes e belos, orgulhosos e vaidosos. Controlam toda a sociedade.
Pratas: Contabilizam e manipulam a moeda e a logística.
Brancos: Controlam a justiça e a filosofia da sociedade. São os pensadores.
Cobres: Também chamados de Centavos, administram a burocracia e o Comitê de Qualidade.
Azuis: São os viajantes e exploradores do universo.
Amarelos: Estudam os medicamentos e as ciências.
Verdes: Desenvolvem a tecnologia.
Violetas: Os criativos. Considerados artistas da sociedade.
Laranjas: Os engenheiros mecânicos. São os mais prestigiados da classe dos trabalhadores.
Cinzas: Também chamados de Latões, garantem a ordem e a hierarquia nas sociedades.
Marrons: Serviçais das tarefas cotidianas.
Obsidianos: Também chamados de Corvos. Elite militar da sociedade, garantem a proteção dos Dourados.
Rosas: São empregados e proporcionadores de prazer da alta sociedade.
Vermelhos: As formigas operárias da sociedade. A capacidade física e mental dos integrantes dessa cor é imensurável.
Há mais fatos relevantes e interessantes, com revelações, surpresas e apreensão, nas primeiras 180 páginas do que em todo o resto. Se o livro seguisse com a ideia inicial, certamente teríamos uma grande obra distópica em mãos. Mas ainda devo destacar a qualidade da descrição do autor, em que ele consegue desenhar muito bem em palavras as cenas de ação - é tudo palpável, dá pra sentir enquanto você lê. Além disso, ele consegue criar bons personagens, embora a maioria deles com traços distorcidos muito parecidos. Gostei da forma com que ele terminou a história, embora bastante clichê. Ela abre um enorme leque e uma grande possibilidade de encontrar aquilo que eu esperava neste primeiro volume no segundo, chamado de Filho Dourado.
A edição da GloboLivros está bem cuidada. A capa é muito bonita e aveludada. As páginas internas são bem diagramadas e não lembro de algum erro bizarro na revisão. Por ter me frustrado tanto com a leitura, sendo que eu nem estava com grande expectativa com esta história, fico com três estrelas, mas com sensação de que vem algo melhor e maior no próximo volume da trilogia, que terá seu último volume publicado em julho de 2016. 'Fúria Vermelha' será adaptado para o cinema por Marc Forster, diretor de Guerra mundial Z.