Alessandro232 03/01/2020
O romance que deu origem a um dos grandes clássicos da FC em caprichada edição
"Metrópolis" se tornou um clássico da FC do cinema, principalmente devido a sua estética visionária e arrojada, que foi bastante imitada em outras produções do gênero, a exemplo de "O Caçador de Andróides".
Sem dúvidas, foi a obra que estabeleceu as bases para a FC na arte cinematográfica, e até hoje tem sua importância reconhecida. Justamente pelo fato do filme de Lang ser tão impactante, fica difícil estabelecer uma comparação entre ele e o romance que deu origem ao seu roteiro.
A obra de Thea Von Harboau tem a mesma premissa que o filme de Lang.Tanto o livro e o filme começam no mesmo cenário: a imensa cidade de Metrópolis superpovoada e com grandes desigualdades sociais, até que ocorre o inesperado encontro entre Ferder, o representante dos abastados com Maria, a líder dos operários e aí a situação começa a mudar drasticamente.
No entanto, vale ressaltar que ambas as obras têm desenvolvimento e desdobramentos diferenciados. Podemos dizer que a versão romanceada de "Metrópolis" escrita por Von Harboau é até mesmo mais fantástica e alegórica, digamos assim, que a obra cinematográfica de Lang em muitos aspectos. É justamente na descrição dos elementos de fantasia que senti a mão pesada de Van Harboau. Eles são exagerados e sobrecarregados, uma vez que autora é muito influenciada pela literatura romântica alemã, na qual predomina muitos excessos melodramáticos. Também é possível notar que no texto de Van Harboau se destaca um misticismo religioso bastante intenso, o que para mim prejudicou a narrativa em algumas passagens. Contudo, uma das cenas mais visualmente impactantes do filme de Lang, na qual vemos uma das interessantes manifestações do elemento fantástico no cinema, não é reproduzida no romance de Van Harboau. - o que me deixou um pouco frustrado.
Também achei a descrição de personagens bastante planas, principalmente, Maria que é irritante de tão boazinha - isso se deve a exploração exagerada que autora faz da dualidade anjo/demônio na figura feminina, que também aparece no filme de Lang, mas de modo mais satitizado e sutil. Penso que esses defeitos no roteiro, depois transformado em romance por Von Harboau foram atenuados pelo diretor durante a produção de "Metrópolis", pois o filme concentra-se mais nas situações mirabolantes e deixa o os personagens em segundo plano.
Ou seja, a genialidade de "Metrópolis" deve-se mais a direção criativa de Lang que conseguiu dar uma configuração espetacular a um novo gênero do que ao roteiro melodramático de Van Harboau. Sendo assim, os méritos dessa produção cinematográfica devem ser mais creditados ao diretor do que a sua mulher à época, embora ela deva ser reconhecida por suas contribuições significativas para a criação desse clássico da FC.
Após concluída a leitura, acho que o romance de Van Harboau não é ruim. É possivel ver nele, principalmente na exploração de alguns elementos fantásticos, o gérmen que deu origem a obra-prima de Lang. Mas, quando se compara o livro de Harboau com o filme de Lang, o primeiro fica muito aquém do segundo, no que se refere ao desenvolvimento da narrativa.
Por outro lado, não se pode negar a importância do romance de Von Harboau para a evolução da FC durante o século XX, pois muitas obras do gênero, de autores renomados como issac Asimov e Arthur C. Clarke vão de algum modo retomar e revisar temáticas que surgiram ou foram popularizadas através de "Metrópolis", tais como a relação nem sempre muito harmoniosa entre o ser artificial com o humanos.
Eu daria três estrelas para o livro, se não fosse a edição caprichada da obra lançada pela Aleph, o que justifica o aumento em sua cotação. Posso dizer com certeza, que ela é uma das mais bonitas dessa editora, umas das melhores do Brasil voltada para publicação de obras de fantasia. A capa é preta com detalhes em dourado que reproduz uma emblemática imagem de "Metrópolis". Sua tradução é direto do alemão e de muita qualidade e o livro tem belas ilustrações que reproduzem cenas famosas do filme.
Além disso, essa edição tem extras muito interessantes sobre o processo de elaboração de "Metrópolis", assim como os envolvidos em sua produção.
São eles:
Um posfácio de Franz Rotternsteiner, editor de FC em que ele faz uma comparação do filme de Lang com outros romances do gênero, a exempo de "A Máquina do Tempo" de W. G. Wells;
Um texto da cineasta Marina Person sobre a importância de Van Harboau dentro da indústria cinematográfica alemã, sua parceria com Lang e suas relações com o partido nazista;
Um relato de Antony Burguess, o autor do também clássico "Laranja Mecânica"-, em que ele descreve o impacto de "Metrópolis" sobre ele, principalmente no maneira como o filme inovou a FC no século XX;
A reprodução de algumas páginas da revista de divulgação do filme, nas quais Von Harboau faz alguns comentários interessantes sobre os bastidores de sua produção.
"Metrópolis" , o livro é uma curiosa obra que estabeleceu as bases da criação de um grande clássico do cinema, que se mantém bastante atual. A edição da Aleph, com um bonito e chamativo projeto gráfico o torna uma obra de arte.
É um livro que vale a pena ser conhecido por todos aqueles que gostam de FC, e também querem conhecer um pouco sobre uma das parcerias mais produtivas da sétima arte, que na elaboração do que viria a ser "Metrópolis" deram uma grande amostra de seu grande talento e criatividade ao criar uma obra que continua influenciando artistas de diferentes manifestações artísticas destacando-se entre elas o cinema e a literatura fantástica.