Lucas.Sampaio 30/01/2023
Eu partia para a luta de coração limpo e feliz.
Esse livro faz parte da primeira fase do Jorge Amado, que tem uma obra que pode ser dividida em dois momentos distintos. Pré-Gabriela e Pós-Gabriela: sendo a primeira fase engajada socialmente, com uma vertente mais à esquerda-marxista/Leninista, e a segunda fase pelo o que ele é melhor conhecido - erotismo e sincretismo.
Cacau, que é o segundo romance do Jorge, ainda não possui aquele tempero e fluidez pelo qual o autor é conhecido. Ao contrário, é um romance mais fragmentado, seco, em que o foco maior são os problemas sociais enfrentados pela classe trabalhadora, especialmente a que exerce em um regime análogo a escravidão a colheita do cacau. Tendo como narrador-personagem o João Carneiro, que está contando tudo isso através da lembrança, o que dá esse caráter mais fragmentado, com informações parcas, ou no disse-que-me-disse, com histórias chocantes, tristes, sofridas de: fome, estupro, abuso, violência, e todo tipo de crueldade. Tudo isso dos ricos direcionado para os pobres.
Trechos:
"Nem os garotos tocavam nos frutos de cacau. Temiam aquele coco amarelo, de caroços doces, que os trazia presos àquela vida de carne-seca e jaca. O cacau era o grande senhor a quem até o coronel temia."
"? Eu gostava de Colodino... Mas eu não queimei o bruto porque ele era alugado como a gente. Matá coroné é bom, mas trabaiadô não mato. Não sou traidô...
Só muito tempo depois soube que o gesto de Honório não se chamava generosidade. Tinha um nome muito mais bonito: Consciência de Classe."
"Olhei sem saudades para a casa-grande. O amor pela minha classe, pelos trabalhadores e operários, amor humano e grande, mataria o amor mesquinho pela filha do patrão. Eu pensava assim e com razão."