delphinium 26/05/2024
DECLÍNIO DE UM HOMEM (1948) .
Uma obra que surpreende pela simplicidade de sua escrita, que contrasta com a profundidade e o peso dos temas abordados, inicialmente, poderia-se imaginar uma linguagem mais erudita, dada a complexidade dos assuntos tratados, mas, Dazai opta por uma narrativa mais acessível e fluida, o que torna a leitura mais dinâmica e de fácil compreensão, facilitando a emersão do leitor em questões tão sombrias (ainda que bastante reais e presentes em nossa sociedade) como o suicídio, o uso de drogas e a, de certa maneira, a negligência parental.
A estrutura da narrativa, que acompanha o protagonista desde a infância até seu misterioso fim, é genial! Essa abordagem permite ao leitor compreender como a visão de mundo do personagem principal é moldada e influenciada ao longo do tempo, tornado o desenvolvimento do personagem rico e detalhado, proporcionando uma análise profunda de sua psicologia e das circunstâncias que o levaram ao seu destino trágico.
Outro aspecto admirável do livro, é a atenção do protagonista aos atos cotidianos, alguns até mesmo "banais", da vida humana. O mesmo muitas vezes observa todas as ações ao seu redor, mas é incapaz de interpretá-las de maneira não melancólica ou depreciativa. Essa incapacidade de compreensão (questiono se não seria apropriado utilizar o termo empatia?) do comportamento humano acrescenta uma camada de complexidade ao personagem e reforça a sensação de isolamento e desconexão que permeia toda a narrativa.
É realmente fascinante que um livro tão melancólico, emblemático e repleto de reflexões sobre o eu indivíduo, possa proporcionar uma leitura dinâmica, sem maiores confusões ou tensões exageradas no desenvolvimento.
Em resumo, "Declínio de um Homem" é uma obra sensacional que, através de uma escrita acessível e uma análise profunda de temas sombrios, oferece uma leitura envolvente e repleta de discussões significativas, Osamu Dazai demonstra (e confirma) toda sua genialidade ao criar um retrato tão vívido e perturbador da condição humana.
P.S : Grande momento é aquele onde em meio a narrativa, Dazai cita Dostoiévski e sua maneira excêntrica de pensar, trazendo um monólogo de seu personagem discorrendo sobra a célebre obra "Crime e Castigo", criando uma bela e reverenciada intertextualidade.