Fernanda631 05/07/2023
A Torre Negra #VII
A Torre Negra #VII foi escrito por Stephen King.
A Torre Negra é com certeza uma série épica que merece ser lida e relida; e cada leitura trará sempre um novo significado.
Roland e seu grupo de pistoleiros (o ka-tet, pessoas reunidas pelo destino) composto por Eddie, Susannah, Jake, Padre Callahan e Oi (e quem não queria um cachorrinho desse, né?) chegam até seu último desafio que envolve derrotar algumas forças do mal e embarcar mais uma vez para o nosso mundo, agora no ano de 1999, e encontrar aquele cara estranho chamado Stephen King que parece estar estranhamente ligado ao destino do ka-tet.
Espere muito drama, cenas de ação, filosofia e principalmente um certo misticismo nesse último volume da série que faz referência explícita à lenda do Rei Arthur. E à medida que o confronto final de Roland com o Rei Rubro e a chegada na Torre Negra se aproximam, o leitor tem a sensação de que está deixando toda uma vida para trás, afinal, foram mais de 4.000 páginas até chegarmos nesse ponto.
Este livro, contudo, coloca o Roland no centro de todo o turbilhão de acontecimentos e emoções. Viramos a última página do mesmo jeito que fizemos com a primeira, e o deixamos da mesma forma como o conhecemos – sozinho. Eddie, Jake, Susannah e Oi têm seus momentos e nos arrancam muitas – muitas! – lágrimas, mas suas histórias terminam em momentos diferentes. A estrela principal do último volume da série é o velho com o grande trabuco na cintura, então, nada mais apropriado do que usar as citações dele ou sobre ele que mais me marcaram. É de Roland que vamos falar.
A morte nos ameaça ao longo de todo o livro; é como um gosto ruim na boca do qual não conseguimos nos livrar. O tempo todo nós sabemos que algo muito ruim vai acontecer, o que de maneira alguma significa que estaremos preparados quando chegar a hora.
É muito interessante ver como o pistoleiro lida com o fim de sua caminhada e o fato de ter que abrir mão de tanta gente para alcançar o seu objetivo. Por toda a vida a única coisa que o moveu foi chegar à maldita Torre, ver o que a preenchia, quem estava lá dentro, subir ao último andar. Um detalhe importante é que ele nunca teve a pretensão de arrumá-la, endireitá-la para salvar o que restasse do mundo. A única coisa que sempre quis foi chegar ao topo, um desejo que o consumiu por completo e o fez de escravo.
Mas Roland não é um homem ruim. Ele é apenas viciado, obcecado, fadado a viver em função de algo que, durante quase toda a sua vida, muitos acreditavam ser um mito. Ao longo dos livros, o pistoleiro é questionado por aqueles que aprendem a amá-lo, por que você precisa tanto chegar à Torre? É uma pergunta que nem ele consegue responder.
É um personagem repleto de defeitos, com cada um deles estampado na cara, mas só não é meu favorito porque o Jake existe. Além disso, o Roland é muito parecido comigo, o que não deve ser uma coisa assim tão boa.
Apesar de seus defeitos, ao longo dos sete volumes vemos o homem reaprender a amar, não um amor de homem e mulher (esse foi totalmente consumido pelo fogo junto com Susan em Mejis), mas um amor de pai, de irmão. Algo que ele nunca experimentara por completo antes, e já não imaginava ser possível sentir depois de perder Cuthbert em Jericho Hill. Vemos um homem duro, teimoso e inflexível sequestrar três habitantes de Nova Iorque e obrigá-los a se juntar a ele em uma jornada sem sentido apenas porque o Homem de Preto assim predisse. E vemos o mesmo homem se afeiçoar a cada um dos seus “prisioneiros”, abrindo-se para eles, compartilhando suas histórias e seus medos, ensinando-os tudo que podia e se deixando ensinar, até virarem uma família.
Universos paralelos à parte, o relacionamento entre eles é a mensagem mais importante a ser tirada dos livros. É o que dá liga à história, é o que nos faz sentir como se fizéssemos parte daquilo também. E é por isso que dói tanto quando os laços são rompidos.
O fim do pistoleiro é infinitamente mais triste do que o fim de seus companheiros. Esse é o mais próximo que eu posso chegar da verdade sem dar spoiler nenhum. É uma conclusão cruel, muito parecida com a realidade das nossas vidas físicas e espirituais, porque, no fim das contas, nada é mais verdadeiro do que isso:
Pra mim, esse livro aqui é o mais emocionante. E não é necessariamente por ser o último. Teve uma parte que chorei, e foi aí que percebi de onde veio esse amor todo pela série. São zilhões de páginas acompanhando o ka-tet, e você se sente parte do ka-tet também. Desde o início, você sabe que vão ter mortes, você sabe que vai ser difícil, você espera o pior. Mas o ka-tet é seu também, você também faz parte, você torce pra que o caminho não seja tão ruim.
Nos últimos capítulos, quando a Torre está tão perto que você praticamente encosta nela enquanto está lendo, é aí que você vê como ama a história. King soube te guiar até aqui de um modo incrível, e chegar no final também é maravilhoso pra você, tanto quanto pra Roland e o ka-tet.
Foi cansativo? Foi. Passei raiva, fiquei triste, fiquei feliz, senti mil coisas. E acho que o principal dessa série é exatamente isso. Ela te faz sentir muitas coisas, e a leitura torna-se simplesmente incrível por conta do laço que foi criado entre leitor e personagens.