Reno Martins 04/02/2015Tem fimEm "A História Sem Fim", a escrita de Michael Ende vacila entre o envolvente e o prolixo, resultando numa estranha sensações de circularidade. Os vários trechos promissores, em que há lampejos interessantes, não são suficientes para suplantar o clima de tédio permanente da obra, em que "tudo muda", mas "nada muda".
Em parte, acredito que isso se deva à filosofia de base gnóstica da trama. A indiferença moral entre o bem e o mal que autor prega insistentemente em toda a obra; o "faça o que quiser", o "siga em qualquer direção" e o "nunca julgue por si mesmo", criam uma certa inércia fatalista que impregna o leitor.
Ateiú, o herói da primeira parte, é um garoto de apenas dez anos e o mais adulto dos personagens. Em momento algum sofre os anseios e conflitos da sua idade e a história deixa implícito que sua superioridade decorre dele ser um "filho de todos", um órfão criado coletivamente, sem pai ou mãe. Para Bastian, que ganha o protagonismo na segunda parte, a paixão pelos livros e a conquista do poder são apenas peculiaridades de caráter, sem diferenças morais qualitativas.
A ausência de identidade moral e, portanto, de conflitos humanos verdadeiros, torna a história superficial, apensar do grande número de "camadas de realidade" que o autor tenta dar à Fantasia. No fim das contas, "A História Sem Fim" encanta quase exclusivamente pela estética: o colorido das muitas diferentes criaturas e ambientes que o autor deu à Fantasia.
Para os mais exigentes é interessante, mas não cola.