Fê Gaia 16/08/2016Livro-pipocaNão, não espere alguma preciosidade literária. Esse é um livro de memórias e reflexões de uma moça carismática e um tanto insegura que um belo dia resolveu abrir parte de sua vida e ideias para o mundo através de vídeos e percebeu que era realmente boa nisso. Daí veio o inevitável convite para escrever um livro, sonho de adolescência, e ela aceitou. Tremendo de medo, mas aceitou. O resultado é esse livro confessional, com a compilação de todas as neuras que a Jout Jout já enfrentou. Comprei o livro por acaso numa livraria; estava na véspera de uma viagem e queria alguma leitura leve, que não me exigisse muito esforço. Já simpatizava com a Júlia e quando vi seu livro, que nem sabia que tinha sido lançado, resolvi comprar. De certa forma, o livro cumpriu o propósito que atribui a ele: uma leitura rápida e um tanto divertida, de fácil digestão e boa de passar o tempo; o famoso “livro-pipoca”.
Por outro lado, falta ritmo ao texto, regularidade. Ele é uma espécie de montanha-russa infantil, com uns altinhos, que são realmente legais, e uns baixos verdadeiramente sem graça. É como se uma amiga querida, com quem você não conversava há muito tempo, te encontrasse pra um bate-papo e resolvesse desabar sobre você todos os acontecimentos de sua vida, dos interessantes aos mais tediosos. Você ouve tudo, em nome do carinho que tem por ela, mas por dentro pensa que essa amiga poderia ter um pouco mais de filtro, e desenvolver melhor os assuntos que são dignos de nota. A diferença é que na conversa com a tal amiga você talvez pudesse ir dando uns toques e guiando a direção do papo; o texto da Jout Jout já é um monólogo fechado.
Muita gente reclamou da diagramação do livro e eu concordo, a editora usou vários artifícios pouco honestos para fazer o livro render 200 páginas. Desnecessário e ecologicamente incorreto, mas longe de ser a pior falha do mesmo, como já foi dito.
Em suma, o livro vale a leitura como passatempo, e provavelmente lhe arrancará sorrisos e algumas risadas; é bem possível também que você se identifique com algumas das crises da Júlia e se sinta mais próxima dela através do relato; a Jout Jout tem um certo talento para despertar a familiaridade nas pessoas. Só não crie muitas expectativas nem queira comparar, ou criar uma competição entre a persona dos vídeos e a autora do livro, pois isso certamente será decepcionante. Embora seja o mesmo ser humano nos dois veículos, a Jout Jout possui uma segurança e desenvoltura muito maior na plataforma audiovisual, aquela já se tornou seu ambiente natural, sua zona de conforto. Mas ela resolveu se arriscar, e a vida é mesmo feita de pequenos (e grandes) atos de coragem.