martem 07/04/2021
Neil Gaiman, meu filho.... o que foi isso?
Decidi ler Deuses Americanos por duas razões - a primeira delas foi porque eu queria finalmente imergir na leitura de uma obra de Neil Gaiman, pois até o início deste ano tudo que eu já havia feito era assistir a adaptações de suas obras e gostado bastante delas (Stardust, Good Omens), então eu precisava conferir o universo dele no papel; a segunda era porque, assistindo à série Deuses Americanos, acabei chegando num ponto em que eu não conseguia mais continuar a ver... logo, achei que seria apropriado partir pro livro que SEMPRE é mais denso e profundo do que a série!
Comecei a leitura no início deste ano e terminei hoje - o que demonstra que série e livro conseguiram me arrancar os mesmos sentimentos... Tanto na adaptação quanto no livro, há pontos em que a história se prolonga e se arrasta a ponto de eu não fazer ideia de pra onde eu estou sendo levada e, por muitas vezes, eu precisei me desgarrar dessa viagem de destino tão incerto e jornada tão entediante e desinteressante.
Quando eu me comprometi a continuar a leitura mesmo com essa sensação, eu fiquei impressionada com minha determinação - eu não sou essa pessoa, eu não me mantenho atada a uma história que não está me agradando. Ler é prazer e se não estou sentindo isso, perco o que me motiva a continuar.
Mas continuei. Gostava dos deuses que apareciam vez ou outra, achava interessante o conflito, a guerra para a qual estávamos nos encaminhando, queria saber o que aconteceria com alguns mortais e achava incrível (uma das coisas, se não a coisa mais incrível da história) a diversidade de deuses e culturas presentes na história - minha parte favorita era a vinda dos deuses à América, explicitando o quão forte são as crenças e também o quão poderosas elas são, capazes de aniquilar, criar e fortalecer divindades.
As partes em que não havia deuses, só Shadow ou Shadow com Wednesday eram partes que testavam a minha paciência: Shadow não é uma água límpida que o fundo e sua imensidão são visíveis, não. Eu sentia Shadow opaco... impenetrável. Se ele nada quisesse me revelar sobre si, eu nada dele conseguiria saber. Como se não bastasse isso, ele estava sempre acompanhado de uma criatura esquiva, escorregadia, que se recusava a revelar qualquer coisa, a menos que fosse da forma mais misteriosa possível.
A guerra estava acontecendo, mas acontecia fora das minhas vistas e da de Shadow, de modo que eu praticamente estava ignorando sua existência e, assim como Shadow, curtindo minha estadia na pacata Lakeside. Queria conhecer um pouco mais de Marguerite, de Chad, mas atambém queria entender o que diabos tinha de tão interessante em "As Minutas da Câmara Municipal de Lakeside 1872-1884"!!!
E, a partir desse ponto da história, eu não entendia porque eu estava lendo o que eu lia. O livro começou a se parecer com a vida: uma série de acontecimentos sem propósito e importância, completamente dissociados um do outro, que simplesmente ocorrem e existem. Passei um dia inteiro acompanhando a vida nem um pouco atrativa de outras pessoas, pensando "meu deus, quando voltaremos a ver os deuses e o conflito entre os velhos e novos?????"
Até que lá pra mais da metade do livro, a história deu uma guinada surreal! O conflito entre os deuses e a iminente batalha final me envolveram tanto que só me foi possível largar o kindle de madrugada quando finalmente acabei a história!
Tudo acabou se encaixando perfeitamente e eu nem lembrava mais do quão chato foi o caminho para chegar até aqui! Eu adorei o desfecho, não fiquei nem um pouco decepcionada, tudo fez bastante sentido e foi condizente com a essência das personagens.
Fecho a porta do universo de DA, sem remorso, tristeza ou mágoa, apenas resignação e contentamento.
Obrigada, Neil Gaiman!