Esther 08/08/2017Livro ok, tem seu valor mas deve ser lido criticamenteAs opiniões sobre este livro costumam ser bastante polarizadas. É possível encontrar resenhas que afirmam que esse livro traz a verdade escondida de todos enquanto outros o colocam como um livro "para vender", feito com este fim e não necessariamente de passar adiante algum conhecimento.
As críticas negativas tem algum fundamento, obviamente. É um livro que se propõe a falar de história porém com um autor que é jornalista e não historiador. Além disso, todo livro traz uma mensagem e a deste é que há aspectos da história que lhe foram propositalmente escondidos.
Este talvez seja o maior ponto de discórdia. Vários historiadores e estudiosos se sentiram surpresos, eu inclusa, de notar que determinados fatos não são passados para a população leiga. Posso citar como exemplo o da criação do samba e do personagem Aleijadinho como "produtos essencialmente nacionais", o posicionamento acerca da Guerra do Paraguai e dos índios em relação à colonização... São fatos que eu vi serem discutidos na escola, então fiquei surpresa de saber que em outras instituições de ensino, não se ensinava da mesma forma.
O motivo, segundo os historiadores, é que a pesquisa histórica é uma ciência porém não exata. Tentamos entender o passado com base em documentos, cartas e outros relatos de pessoas que não estão mais aqui. Com isso, a história passa a ser dependente também dos fatos e das interpretações do mesmos. Sendo uma ciencia, portanto, ela pode vir a ser recontada a luz de novos fatos. Um exemplo, citado no livro inclusive, era a crença de que Dom Pedro I era violento com suas esposas e amantes. Recentemente, os corpos destas mulheres foram novamente examinados e não foi encontrada evidência de que havia maus tratos físicos. A história foi corrigida.
O problema do livro é colocar essas "incoerências" como se fossem propositais, como se houvesse um interesse coletivo em se omitir certas informações. Porque ao fazer isso, alguém tem que ser culpado. No livro, fica a impressão de o culpado são as pessoas de esquerda.
Para tanto, em alguns capítulos, como os dos negros, chega a existir alguns trechos incoerentes e que pecam justamente por não levar em consideração que a história não é um amontoado de fatos e que tudo deve ser analisado em conjunto com os fatores econômicos, políticos e sociais da época.
Um desses trechos é bem trabalhado pelo Filipe do canal Xadrez Verbal, (link abaixo) como transcrevo abaixo:
"Narloch dá exemplos desses processos únicos, sem notar que eles invalidam seu próprio argumento. Ao contar a história de Zé Alfaiate: “O mais provável, porém, é que visse no comércio de gente uma chance comum e aceitável de ganhar dinheiro, como costurar ou exportar azeite.(…) Zé Alfaiate. Ex-escravo e traficante, foi ao mesmo tempo vítima e carrasco da Escravidão”. O trecho explicita que o tráfico de escravos torna-se larga atividade mercantil, baseada apenas na moeda, que Zé Alfaiate, negro, detém; longe então do apresamento pela guerra, que ele usa, erroneamente, como comparação."
Em outros capítulos, como o da Guerra do Paraguai, o livro traz quase um resumo do que foi trabalhado no livro História das Guerras do Doratiotto. Ou seja, ele traz um conhecimento das academias para os leigos e o vende como se fosse algo super escondido da população.
Apesar de tudo isso, acredito que o livro tenha o seu valor para a população leiga se esta o ler criticamente. Afinal, há poucas obras de qualidade voltadas (ou divulgadas) para o público leigo o que da margem para que surjam livros mais sensacionalistas. Narloch deixa transparecer, talvez até sem notar, que a história não é só uma colcha de retalhos dos fatos. A história vai sendo reinterpretada conforme documentos e outros fatos vão sendo descobertos.
Por estes motivos, por trazer a discussão de como a história é contada e entendida como ciência, é que não dou uma avaliação baixa para este livro. Dou três estrelas porque foi ok, mas me motivou a pesquisar melhor alguns assuntos para confirmá-los e porque pode servir como ponto de partida para que outros aprofundem seus conhecimentos de história.
Por fim gostaria de deixar meu agradecimento aos meus professores de história que sempre me ensinaram a questionar e ter um posicionamento crítico diante da vida.
site:
https://xadrezverbal.com/2014/02/28/escravos-africanos-e-o-trafico-atlantico-historia-politicamente-incorreta/