Os despossuídos

Os despossuídos Ursula K. Le Guin
Ursula K. Le Guin
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Resenhas - Os Despossuídos


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erikali__ 19/05/2024

"(...) o senhor é uma ideia. E perigosa."
Esse livro foi um retrato sobre amor, uma reflexão filosófica e uma crítica política. É o segundo livro de Ursula que leio e sigo encantada com a escrita, ambientação, a apresentação de ideias e conceitos.

Os Depossuídos me prende pela forma como as ideias são apresentadas, principalmente como elas escalonam: não é apenas sobre uma teoria física! A leitura é um convite a ver o que fomos, somos e podemos ser - enquanto sociedade e indivíduo. A capacidade de criar conceitos e termos - egoizar, possuidores... - para ações/expressões que enquanto grupo nós tomamos é incrível, pois auxilia a torná-los concretos, a percebermos que os reproduzimos.

? DESTAQUES:

"Uma linha, uma ideia de limite"

"Havia muros em volta de seus pensamentos e ele parecia totalmente inconsciente disso, embora vivesse se escondendo atrás deles"

"A questão da superioridade e da inferioridade devia ser fundamental para a sociedade urrasti. Se para ter respeito próprio Kimoe precisava considerar metade da humanidade como inferior, o que faziam as mulheres para terem respeito por si mesmas?"

"A ausência de qualquer abuso ou imposição da autoridade deixava a autoridade real à mostra."

"Estou tentando dizer o que a fraternidade realmente significa. Ela começa... começa na dor que se partilha."

"(...) não queriam pensar sobre questões, mas escrever as respostas que tinham aprendido."

"A coação é o meio menos eficiente de se conseguir a ordem."

"Não pense, ele tinha dito, porque era mais fácil que dizer: Aceite-me por quem eu sou."

"Aqui se olha para jóias e lá para os olhos. E nos olhos pode-se ver o esplendor, o esplendor do espírito humano."

"Uma promessa é uma direção tomada, uma limitação voluntária da liberdade de escolha."

"? Há uma época, aí pelos vinte anos - disse Bedap -, em que se tem de escolher entre ser igual a todo mundo o resto da vida, ou fazer de suas peculiaridades uma virtude."

" (...) separação educa a gente, está certo, mas sua presença é a educação que eu quero."

"Mas e quando não havia o suficiente? Então a força entrava em ação; o poder prevalecia sobre o direito; o poder e sua arma, a violência, e seu mais fiel aliado, o olhar que se desvia."

"Quanta renúncia pode-se exigir de um homem?"

"(...) as escolhas de um ser social nunca são feitas na solidão."

"Naturalmente, ele pensa sem parar."

"O Estado não reconhece outra moeda senão o poder: e é o próprio Estado que emite as moedas."

"Não é apenas porque eles querem essa ideia sua. Mas porque o senhor é uma ideia. E perigosa."

"Quanto menos ele tinha, mais absoluta se tornava sua necessidade de ser."
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Karen580 17/05/2024

Bem cabeçudo
Além de trazer uma perspectiva do futuro da humanidade menos catastrófica, o livro questiona diversos costumes contemporâneos que, se olhados por uma lente alienígena, parecem bem antiquados.

o shevek atua como esse olhar alienígena pros costumes e estrutura da sociedade em Urras. entre eles:

- relação com mulher (está ali para servir, não trabalha nem tem perspectiva de outro papel na sociedade)

- relação com shoppings (nao se vê quem produz o que compramos, nem as fábricas. tudo é escondido para o consumo)

- relação com o ensino (só serve pra carreira, só serve pra dar status, não se aprende por aprender ou por realização pessoal)

- relação com casas particulares/quartos individuais (tudo é individualizado, ou ?egoizado?, como diriam em Anarres. as pessoas não se veem como comunidade)

- relação com o trabalho (incentivo apenas financeiro, lucro. ?mas onde não existe dinheiro as motivações reais ficam mais claras. as pessoas gostam de fazer as coisas?

foi uma leitura que me travou um pouco pela forma de escrita, mas que valeu muito a pena.
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e-zamprogno 07/05/2024

Em que mundo habita a liberdade?
O livro começa e termina de forma muito poética. Talvez tenha sido a disposição da autora de escrever sobre algo realmente profundo. Entre o começo e o fim o texto tem ares menos poéticos, mas continua tratando de assuntos densos e profundos.
O livro narra a biografia de Shevek, acho que posso colocar assim. Shevek é um físico proeminente de um planeta chamado Anarres que foi colonizado no passado por anarquistas. Na prática isso quer dizer que a sociedade que lá vive, anarco-socialista, tentando manter a "revolução" viva, rejeita a hierarquia, a propriedade privada e mesmo a existência de leis que regem a sociedade. Termos como "proprietário" e "hierarquista" são usados como ofensas, e mesmo pronomes possessivos são usados com sarcasmo. Apesar de ser chamado de "planeta" por ser habitado, na verdade trata-se do satélite natural de outro planeta, Urras, de onde vieram os colonizadores anarquistas há 170 anos. Ao contrário de Urras, sua lua é extremamente carente de recursos naturais.
Boa parte da história consiste na exposição do modo de operar desta sociedade, narrando a vida de Shevek, desde sua infância, mas não de modo linear. O livro começa de fato com a partida de Shevek para Urras, mas os motivos que o levaram a tomar esta decisão são esclarecidos completamente apenas no final. Um pouco devido aos ideais da comunidade mas aparentemente também devido à escassez de recursos, além da posse, tudo o que é supérfluo, sem uma finalidade utilitária, é mal visto e, como Shevek é um físico teórico, apesar de brilhante ele é visto com desconfiança por parte da sociedade. No melhor dos casos, as teorias nas quais ele trabalha despertam pouco interesse na sua sociedade. Deste modo, o intercâmbio com Urras abre a possibilidade dele conseguir publicar seu trabalho para o bem maior da Ciência. Parte da "biografia" de Shevek então se passa numa sociedade capitalista, do ponto de vista de uma pessoa que sequer sabe como usar dinheiro. E a narrativa vai assim se alternando entre sua aventura de descoberta das benesses de uma sociedade rica (mas desigual), e sua vida pregressa no seu mundo original. Há ainda outros dois mundos que têm uma participação pequena porém importante na história: a Terra e Hain, descrita como uma das "raças" mais antigas conhecidas, que portanto possui a mais longa história e a tecnologia mais desenvolvida. Mas se quiser saber que fim levou a teoria revolucionária de Shevek, terá que ler o livro.
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Erich 04/05/2024

Genial. Ursula aproveita a ficção científica para fazer crítica social presente. Este não é simplesmente um livro de ficção, é um livro de política, de filosofia. Ele exala mais realismo do que livros de não-ficção. E se conecta mais com a realidade presente do que livros que não exploram o futurismo.

O cenário é o seguinte: Anarres e Urras são planetas irmãos. Em Anarres temos uma sociedade de anarquistas. Em Urras temos tanto países capitalistas quanto países socialistas. O personagem que acompanhamos é Shevek, o físico, e vamos acompanhando ao longo da história:
- O desenvolvimento da teoria científica de Shevek. Que por si já valeria como ficção científica maravilhosa. Temos aqui uma mistura de entendimentos sobre o que é o tempo, referências a Albert Einstein, indícios da criação de dispositivos que poderão levar a uma federação interplanetária, ...
- A exploração de como funcionaria uma sociedade anarquista. Somos levados a refletir sobre diversos aspectos, inclusive sobre nossa linguagem. O livro, além disto, não para em um simples elogio ao anarquismo. A história expõe problemas que poderiam surgir nesta sociedade e desenvolve uma crítica a respeito. Toda essa construção da um ar filosófico ao texto.
- O choque cultural de um anarquista conhecendo uma sociedade capitalista. E aqui temos diversas críticas explicitas à sociedade capitalista atual. Somos levados a uma perspectiva nova e obrigados a perceber que várias coisas não são "dadas", não são "normais". E aqui o livro toma um ar essencialmente político.

Gostei também do modo de escrita da Ursula. Primeiro, pois sua fala é direta. Ela diz imediatamente aquilo que deseja, cada frase uma nova reflexão. Segundo, a distribuição dos capítulos. Vamos fazendo uma alternância constante passado-futuro, Anarres-Urras. E essa construção é feita de tal modo que a leitura do futuro auxilia o entendimento do que ocorreu no passado. As ideias se conectam, os discursos se conectam.

Coloco abaixo várias citações do livro que me chamaram atenção ao longo da leitura. Muitas críticas ao machismo na sociedade, críticas ao capitalismo, reflexões sobre anarquismo e revolução.

" - Não há mesmo nenhum distinção entre o trabalho do homem e o trabalho da mulher?
- Bem, não, isso parece uma base muito mecânica para a divisão do trabalho, não é? Uma pessoa escolhe o trabalho de acordo com seu interesse, seu talento, sua força... O que o sexo tem a ver com isso?"

" Se para sentir-se digno Kimoe [um homem urrasti] precisava considerar metade da raça humana inferior a ele [refere-se às mulheres], como as mulheres faziam para se sentir dignas? Será que consideravam os homens inferiores? E como tudo isso afetava a vida sexual deles?"

" - Se há uma coisa que todo mundo sabe sobre os odonianos, suponho, é que vocês não bebem álcool. Aliás, isso é verdade?
- Algumas pessoas destilam álcool de raiz de holum fermentada para beber. Dizem que libera o inconsciente, como no treinamento das ondas cerebrais. A maioria prefere o treinamento. É muito fácil e não causa a doença. Isso é comum aqui?
- Beber, sim. Não sei essa doença. Como se chama?
- Alcoolismo, eu acho.
- Ah, sei..."

" - Eles esperam que os estudantes não sejam anarquistas? - perguntou. - O que mais os jovens podem ser? Quando se está embaixo, deve-se organizar as coisas de baixo para cima!"

" Sua sociedade os mantinha completamente livres de carências, distrações e preocupações. O que estavam livres para fazer, entretanto, era outra questão. Parecia a Shevek que a liberdade de obrigações era exatamente proporcional à sua falta de liberdade de iniciativa."

" Tentou ler um texto elementar sobre economia, mas a leitura o entediou além do suportável; era como ouvir a narração interminável de um sonho longo e idiota. Não conseguia se forçar a entender como os bancos funcionavam e por aí afora, pois todas as operações do capitalismo eram-lhe tão sem sentido quanto os ritos de uma religião primitiva, tão bárbara, tão elaborada e tão desnecessária"

" Tinha três quilômetros de extensão e era uma massa sólida de pessoas, tráfego e coisas; coisas para comprar, coisas à venda. [...] Tudo inútil, para começo de conversa, ou enfeitado para disfarçar sua utilidade; quilômetros de luxo, quilômetros de excremento."

" Não podem comprar a Revolução, não podem fazer a Revolução. Vocês só podem ser a Revolução. Ela está no seu espírito, ou não está em lugar nenhum."

" Era fácil partilhar quando se tinha o suficiente, mesmo que escassamente suficiente, para se viver. Mas e quando não havia o suficiente?"
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Bruno Marcolino 29/04/2024

Os Despossuídos- Ursula K Le Guin
Simplesmente incrível. Pode ser um pouco difícil pegar ritmo no início, mas depois é um capítulo atrás do outro.

A Ursula mostra possibilidades de sociedades e ela escreve tão bem, é muito envolvente acompanhar a estória. Ela abre espaço para questionamentos muito bons, sobre como vivemos e o que poderíamos ser.

Recomendo demais a leitura. Com certeza, umas das leituras preferidas desse ano, até agora.
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Gi Gutierrez 24/04/2024

Os despossuídos
"... se as pessoas continuarem com a hostilidade e o ódio, mandamos todas para o inferno. De que adianta uma sociedade anarquista que tem medo de anarquistas?"
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JuPenoni 13/04/2024

Comecei a ler esse livro em dezembro do ano passado, mas por priorizar outras leituras, ele acabou ficando...
É o segundo livro da autora que eu li, preferi o outro (A mão esquerda da escuridão), talvez por esse ter como personagem principal um físico, em alguns momentos tive dificuldade de acompanhar.
Mas o livro me pegou a partir dos 60%, não queria parar, curiosa para saber o que aconteceria.
Valeu a leitura.
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Nico 27/03/2024

Sem querer egoizar mas ja egoizando...
Que leitura fabulosa! Arrastada no início, com um ritmo dificil de acompanhar, como alguém que acorda dentro de um ônibus que está descendo uma serra: nao se sabe de que lado está vindo nem pra qual lado está o destino, mas sabe que a jornada o leva em direção ao mar.

Passadas as alienígenas primeiras impressões, somos apresentados a um cenário desafiador para a vida humana, mas por um olhar de quem o chama de lar: Anarres, a lua dos revolucionarios que, 160 anos antes de nossa história começar, decidiram abandonar seu planeta, Urras, para dar vida no espaço ao sonho de Odo: uma sociedade anarquista.

É nesse contexto que nosso protagonista, Shevek, nos é apresentado e com ele embarcamos numa história repleta de insights e provocações sobre os sentimentos humanos, dos mais mesquinhos aos mais altruístas, sobre o tempo, sobre a política, sobre o amor e as relações entre as mulheres, os homens e as coisas. Uma rica reflexão sobre o que nos limita e o que nos move, sobre os muros e as fronteiras construídas ao nosso redor, e em nós mesmos. Recomendo fortemente!
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Mari Mirandinha 25/03/2024

Essa foi, sem dúvida, uma leitura muito estimulante! Poder refletir sobre as propostas e contradições dos diferentes sistemas apresentados dentro desse mundo rico criado pela autora foi desafiador e prazeroso. Com certeza vale uma releitura.
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Dandara 23/03/2024

Os despossuídos
Me dói iniciar essa resenha compartilhando que levei cerca de dois anos pata terminar essa leitura, admiro demais Ursula k. Le Guin pela sua importância dentro da escrita produzida por mulheres, ainda mais dentro de um gênero que é praticamente dominado por homens, nas letras e nas telas. Porém, o tal da ficção científica não me cativa, acho enfadonha demais a leitura, por mais fantástica que a construção seja, como é o caso dessa obra. Queria muito ter conseguido ter tido uma leitura mais fluida dela, o que me permitiria absorver com muito mais profundidade toda a crítica social e política que ela faz, mas perdi feio essa batalha. Mas não façam como eu, e mergulhem de cara nessa obra, vale a pena!
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Romão 17/03/2024

A Leitura de Os Despossuídos da Ursula K. Le Guin é um verdadeiro experimento social interplanetário. Pessoalmente considero a escrita da Le Guin genial, não é por acaso que ela ganhou tantos prêmios. Não sou o leitor mas afeito a ficção científica, mas Os Despossuídos tornou-se uma das minhas obras preferidas da vida ( Será só EMOÇÃO pós término da leitura? Só o tempo dirá).

Breve resuminho: 160 anos antes da história do livro se dá, em Urrás, um planeta com abundância de recursos naturais, composto por muitas nações distintas, que tinha como modelo econômico algo similar ao capitalismo globalizado houve uma revolução anarquista que desembocou na migração coletiva dos revolucionários para colonização da Lua Anarres. Nascido em Anarres 160 depois Shevek um físico do campo da Simultaneidade nos apresenta a experiência de viver um mundo anarquista e as relações deste com o Urrás o seu planeta mãe.
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Hugo Hilst 16/03/2024

Ótimo
Amei amei amei amei amei...
Não conhecia a história do livro, pensei que o Shevek faria uma revolução e, a partir da manifestação em Urras, o livro seria todo de guerra etc etc. Mas não, inclusive quase chorei no final; muito fofinho...
O livro consegue balancear muito bem as questões políticas e individuais. Tem alguns pedaços um tanto expositivos, mas não atrapalham muito.
A linguagem não é nem um pouco complicada, mas também não é pobre; principalmente na descrição da natureza a Le Guin escreve umas frases bonitinhas que descansam a mente entre toda a parte política e científica.
A alternância entre passado em futuro me incomodou um pouco no começo, mas é ótima porque, ao estabelecer dois pontos temporais, deixa a história muito mais fresca e também (e eu só percebi isso agora) reflete toda a questão da Física Temporal, a Simultaneidade e os outros conceitos da "ciência" do livro.
Tenho MUITO mais dificuldade em falar bem de coisas do que humilhar, mas recomendo o livro!
Doido pra ler "O Dia Antes da Revolução", conto "prólogo" de Os Despossuídos.
Romão 17/03/2024minha estante
Chocade, descobrindo por você que existe um prólogo AAAAA




Juliana.Barbosa 14/03/2024

A construção de uma sociedade anarquista/comunista em contraponto a um planeta capitalista é feita com maestria pela Ursula Le Guin. Ela consegue de um jeito muito natural nos fazer refletir que a configuração político-econômica atual talvez não seja a única alternativa. Já está no meu top livros preferidos.
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Tamer 02/03/2024

Primeiro livro da autora que leio e achei incrível!
A história é envolvente e muito inteligente, uma ficção científica misturada com política. Com certeza vou procurar ler mais livros dela.
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