Léia Viana 15/02/2021
"A vida separa as pessoas, como separa a gente de nós mesmos."
É o segundo romance de Fernanda Torres, que publicou três livros, sendo um deles de crônica, e este segundo romance como no primeiro ela consegue falar do fim, mas não o término da vida física como foi o seu primeiro livro, e sim, da dissolução do que um dia existiu: sonhos, carreira...
Um jovem aspirante a ator dos anos 60, engajado na luta política cultural contra a ditadura militar, surge Mário Cardoso, esse ator que não demora muito para brilhar no principal canal de televisão do Brasil. É a Glória! e como sendo a Glória, ele também cai para o seu cortejo de horrores como diz aquele ditado: "Depois da tempestade vem a bonança." Ou melhor, no caso de Mário Cardoso, depois da Glória vem o seu cortejo de horrores.
Quando Mário se depara com seus 'pseudos heróis' de militância política e resolve 'desertar', pular do navio e dar rumo ao seu sonho sem muito idealismo social, apenas mirando Shakespeare, ele se depara o quanto somos responsáveis por nossas escolhas e suas consequências.
A crítica que a Fernanda Torres faz a respeito da carreira de artistas pelo Brasil, seja: redatores, produtores, diretores, escritores cinegrafistas, câmeras, atores, enfim todo meio artístico que sofreu uma mudança drástica com a vinda da internet, nos faz pensar nas nossas próprias carreiras e de como tudo é efêmero.
Mário Cardoso, ator que alcançou a grande fama e era uma das estrelas principais da maior emissora do país, resolve virar as costas para a TV, com o sonho de representar Lear, de Shakespeare, nos teatros. O que poderia ser a sua Glória transforma-se em seu cortejo de horrores e dívidas. Mário se vê forçado a tentar voltar a TV, a alternativa é aquela que tem estendido as mãos ao oferecer um estilo único, sem a possibilidade de produções diversificadas.
Fernanda Torres tem um estilo de escrita mordaz e sarcástico, rico em cultural e masculinidade. Ela conseguiu me convencer a ler Shakespeare, o qual nunca havia tido vontade até ler este livro espetacular!
Adorei a capa, aliás, seis livros sempre trazem capas condizentes com a estória que carregam.
Leitura fortemente recomendada!