Leticia.Santoss 28/02/2021
Personagem vs. Pessoal Real, a biografia de Anthony Kiedis
Antes de mais nada preciso dizer que esta minha leitura teve muitos altos e baixos. Dentro e fora do livro. Não me sentia concentrada o suficiente no começo desta leitura para mergulhar fundo nas memórias do vocalista de uma das minhas bandas preferidas. Estar no contexto de uma pandemia mundial não ajuda muito, sua mente fica um pouco bagunçada e você tem tempo para refletir sobre uma porção de coisas que afetam o seu julgamento de absolutamente tudo. Por que raios eu estou falando tudo isso logo de cara? Bom, apesar de não precisar, já estou me justificando pelos momentos em que me decepcionei com Anthony. E não foi pelo seu histórico com drogas. Honestamente, você fica mais surpreso com as bandas de rock que não tiveram um histórico de abuso. O que me decepcionou mais a respeito dessa pessoa, foi a sua relação com as mulheres. O comportamento imaturo, os relacionamentos abusivos de todos os lados e, o envolvimento com menores de idade. Porra, isso me pegou demais. Volto a dizer, neste período de reflexão “forçada”, me peguei pensando no que tem de errado com tudo e com todos (e tem muita coisa errada). Talvez não tenha sido o melhor momento para ler este livro, e apesar dos momentos de leitura enfurecida versus o abandono total do relato eu terminei de lê-lo. E posso dizer, que mesmo com os altos e baixos o considero um bom livro.
Agora você deve estar pensando: sua louca incoerente. Você acabou de falar da sua decepção com o cara e agora está elogiando o livro? Ok leitores, eu posso explicar.
Temos uma tendenciosa visão dos artistas, especialmente os criadores das coisas que mais amamos, neste caso a música. Por exemplo, quando li a biografia do Ozzy, reforcei ainda mais esse “personagem” que ele é. Essa pessoa que não parece ser real (ele estar vivo depois de todas as infames histórias que li só reforça ainda mais essa ideia). Apesar de todo o abuso de drogas e umas coisas bem politicamente incorretas, Ozzy segue sendo para mim esse personagem idealizado, que eu sempre achei que fosse. Colocando sobre estar ótica, o livro do Anthony não me trouxe mais um personagem que eu conheci e cultivei através dos videoclipes da MTV e das suas letras que nem sempre fizeram sentido para mim, ler sua história me trouxe a pessoa Anthony, com todas as suas cicatrizes e a sua história de dependência de drogas. Um ser imperfeito que lutou durante anos contra o seu maior inimigo, ele mesmo.
Na mesma medida que eu senti uma “romantização” do barato, eu vi a antagonização das drogas. Literalmente altos e baixos em diferentes aspectos. Não sei o que é usar drogas, mas realmente imagino pelos seus relatos que estar chapado é algo minimamente eufórico, e um dos principais motivos pelos quais é tão difícil deixar essa sensação para trás. O vivenciar de altas aventuras, a invencibilidade, o poder (imaginário) sobre sua vida. A descrição que Kiedis faz sobre suas “viagens” faz com que o entendamos. Eu me senti triste ao ver recaídas e mais recaídas, e que às vezes só a vontade de mudar e ter que se ama por perto, apesar de essencial, não basta. Essas pessoas, como Anthony, que não conseguem uma passagem de volta precisam ter algo a mais.
No livro ele se descreve como um cara normal. Nada de “sou um ótimo cantor” ou “sei compor como ninguém”, ou ainda “sou um ótimo músico”. Ele fez o melhor que pode para conseguir fazer o que ama. Red Hot é democrático em seu processo criativo, sempre foi, mesmo com as trocas de integrantes (Anthony e Flea se mantendo desde o início). E isso é muito bom de ler. Amar o que se faz e fazer com quem se ama é fundamental para fazer dar certo, mesmo que você não tenha a voz do Freddie Mercury.
Quanto ao relacionamento de Anthony com as mulheres, pode não ter sido o melhor de todos, mas eu espero muito que ele tenha amadurecido com essas experiências e entendido as problemáticas envolvidas. Apesar de ter ficado um pouco decepcionada em ver o humano por trás do artista, também fiquei muito feliz em saber que esse humano (imperfeito para um caralho) existe e que sem ele, a banda não seria tão boa.
Red Hot Chili Peppers me marcou durante o desenvolvimento do meu gosto musical, sempre quis ir a um dos shows e contemplar essa energia caótica que eles apresentam em suas músicas, em seus vídeos e em suas vidas.