alinepickles 18/07/2020
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Em Scar Tissue, Anthony Kiedis faz um apanhado dos momentos que marcaram sua vida, é um livro extremamente musical, e aos que ainda não leram, recomendo que leiam ouvindo todas as musicas citadas por ele (fiz até uma playlist com as músicas do livro, que vão de The Police a RHCP - óbvio). Mas além de música, o livro conta sobre a infância, os amores, aventuras e o mergulho no mundo das drogas vivido pelo vocalista do Red Hot Chili Peppers.
A medida que avançava na leitura, não pude deixar de observar e comparar com algumas coisas que chamaram minha atenção em Mais Pesado Que o Céu (biografia de Kurt Cobain escrita por Charles R. Cross), a primeira delas foi a diferença em lidar com a separação dos pais ainda na infância. O que foi extremamente traumático para o líder do Nirvana, foi algo normal (e até divertido) para AK, que intercalava temporadas na casa dos pais, e com excessão da adolescência, sempre teve um bom relacionamento com ambos. A relação com a fama e ascenção da carreira foram coisas que seguiram em rumos opostos para os dois também. E qual não foi a minha surpresa ao descobrir a admiração de Kiedis por Cobain, que chegou a conhecê-lo e até escreveu uma música em homenagem a Kurt após sua morte (enquanto no livro Fragmentos de Uma Autobiografia, Marcelo Orozco fala superficialmente sobre um espírito de competição despertado em Kurt Cobain durante a turnê que realizaram juntamente com o Pearl Jam). Fofoca também faz parte do repertório de Scar Tissue, quando AK conta da desistência do Smashing Pumpkins ao saber que o Nirvana entraria na turnê, da qual inicialmente eles faziam parte, e ao relatar o comportamento exibicionista de Courtney Love em frente as câmeras/imprensa (chocada hahahaha).
Sobre o uso de drogas, Kiedis não faz questão de parecer santo ou correto, e se desnuda contando sua experiência que iniciou cedo ao lado do pai (que lhe apresentou as drogas e o sexo ainda na adolescência) e logo evoluiu de baseados nos finais de semana para injetar cocaína e heroína por dias a fio. Com um vasto ciclo de amizades que compartilhavam do mesmo interesse, sua experiência com a morte também dá as caras. Anthony Kiedis perde amigos para as drogas aos poucos e é no processo de luto por Hillel Slovak, seu amigo de infância e lendário guitarrista da formação original do RHCP que ele inicia o processo de ficar limpo das drogas, passando por altos e baixos durante vários anos até conseguir uma estabilidade na sobriedade que dura até o momento, segundo ele.
Outra coisa muito bacana do livro é o processo de criação das músicas/álbuns e como isso implica no envolvimento da banda como um todo, algo que ocorre desde a primeira formação e nunca mudou mesmo com toda a rotatividade dos músicos que fazem ou fizeram parte da história do Red Hot.
Como toda narrativa tem seus furos, tambem não pude deixar de notar uma brecha ao contar sobre a apresentação no Saturday Night Live de 92, quando a relação entre Anthony Kiedis e John Frusciante não estava nada bem (aqui eu abro espaço para cada um tirar suas conclusões).
Por fim, como bom rockstar e namorador que é, ele conta sobre seus relacionamentos com varias mulheres ao longo da vida, e com isso escancara sua intimidade ao mundo, dando aos fãs (e aos haters) uma chance de olhar além do Anthony Kiedis enérgico e maluco que vemos nos palcos.