Queria Estar Lendo 09/05/2018
Resenha: A Caçadora de Dragões
A Caçadora de Dragões é o primeiro volume da série Iskari, lançada aqui no Brasil pela Editora Seguinte - que cedeu este exemplar para resenha. Na história, Kristen Ciccarelli nos apresenta a um mundo onde dragões são inimigos alimentados por histórias antigas, e uma garota está determinada a caçar até o último deles por vingança.
Asha é uma Iskari; uma caçadora de dragões destemida, marcada pelo fogo da fera mais perigosa de seu tempo: Kozu. Ela foi a única sobrevivente de um ataque à cidade fortificada, ataque que, segundo as histórias, foi culpa da própria garota. Curiosa com as histórias antigas, ela alimentou a fera até abandoná-la, e Kozu retaliou com destruição.
"Aonde Namsara levava risadas e amor, Iskari levava destruição e morte."
Agora, Asha quer vingança. Pelo fogo e pelas mortes e por ter se tornado um monstro aos olhos de quase todos ao seu redor; contudo, nem todas as histórias são o que parecem. Conforme se aproxima de sua presa, Asha terá sua confiança testada, e tudo em que acredita será posto à prova.
Eu amo dragões. Você pode escrever uma história sobre o ciclo da água, se tiver dragões, eu estarei lá. Esse foi o motivo para eu ter desejado tanto ler esta obra; com um começo um tanto quanto arrastado, A Caçadora de Dragões acabou me fisgando do meio para o final.
"Onde as histórias antigas eram contadas, havia dragões, onde havia dragões, havia destruição, traição - e fogo, principalmente."
Asha é uma protagonista interessante de se acompanhar. Ela não é exatamente perfeita ou inquebrável. É forte e destemida e movida pela sede de vingança, impetuosa por se arriscar nas caçadas com sua rebeldia, usando as histórias antigas para atrair seus inimigos. Ela tem suas falhas e seus escorregões no quesito honra que me fizeram gostar muito dela. Não é uma personagem simpática, mas tem presença e faz você querer continuar acompanhando sua história.
Eu gostei muito dos dilemas que ela confronta conforme a história foi avançando. Apesar de ter sentido tudo muito estagnado até a página 150, pelo menos os arcos da protagonista valeram a pena. Asha passa por algumas transformações no começo da história, coisas que a fazem duvidar de tudo que conhece, confrontos morais dentro da própria mente.
Os personagens coadjuvantes têm suas histórias paralelas bem desenvolvidas. Torwin, o escravo responsável pela maioria das melhores cenas da história, foi o meu favorito. Amo sua gentileza e como ele foi tão importante para Asha, sem perder a própria importância na trama. Torwin passa por grandes provações, físicas e emocionais, e tem uma história paralela de encher o coração.
"A expressão dele fez a respiração dela falhar. Era como olhar no coração de uma estrela, fulgurante e ardente."
O romance, inclusive, é bem calmo e fofo e encaixa no enredo de tal maneira de que repente você está amando os dois e torcendo para que tudo dê certo, mesmo que pareça que tudo vai dar errado. Torwin e Asha são opostos; tanto em personalidade quanto em história, mas parecem certos um para o outro.
Jarek, o comandante cruel que faz sombra à Asha e à liberdade, é um antagonista interessante. Um pouco clichê, sim, mas eu gostei da forma como a história o apresentou e segurou nesse lado de ordem e horror; como ele é um monstro escondido sob a forma de um guerreiro poderoso.
"Se alguém a abrisse e olhasse, encontraria um interior similar ao seu exterior: repleto de cicatrizes. Assustador, terrível."
O pai de Asha, o rei-dragão, é uma figura interessante. Talvez um dos mais interessantes de se entender. Um pai cuidadoso, um rei cheio de poder e voz, um caçador temido que foi capaz de erguer um reino das cinzas contra os inimigos dos céus.
E, socorro, os dragões! Como eu amo uma trama bem desenvolvida envolvendo essas feras. Isso foi a melhor coisa do livro, sem dúvida. As histórias antigas, sua ligação com as criaturas, o que são, de fato, esses dragões e como são importantes para a obra num todo. Eu amei a ferocidade e o cuidado que a autora teve com o desenvolvimento do arco deles.
O ponto da lentidão do enredo foi um problema para mim. O background foi instigante o suficiente para me manter presa ao livro, ansiosa para saber mais, mas a autora pecou em arrastar tanto as informações. Como eu sempre digo: se você está escrevendo Fantasia, me conte sobre seu mundo.
"- Se preciso me tornar um monstro para impedir outro, então é o que eu farei."
Não tenha medo de me mostrar. Kristen fez isso de maneira criativa, através de capítulos contando histórias antigas - as mesmas que são proibidas pelo rei-dragão, que devoram quem as conta - PORÉM, o fato de apresentá-las sempre depois de entregar capítulos repletos de informações bagunçaram um pouco meu entendimento.
Até o meio do livro, não senti que conhecia a história completamente. Por sorte, uma vez que a imersão foi entregue, depois dos trancos e barrancos, senti uma montanha-russa de adrenalina e reviravoltas que não me deixaram largar o livro.
"Os heróis antigos eram chamados de namsara em homenagem ao amado deus. Mas sua filha seria iskari - como a deusa letal."
Quando a trama desenganchou daquele tédio, foi ação atrás de ação; dragões e lutas e traições e aliados inesperados. Vou correr comprar a sequência só pela promessa que a autora deixou com aquele fim.
A edição da Seguinte, como sempre, enche os olhos. Muita gente reclamou da capa que usaram aqui no Brasil. Eu, particularmente, me apaixonei. É muito melhor que a da edição gringa (que, inclusive, já foi usada aqui no país para outro livro e por outra editora, o que explica a adaptação da Seguinte) e combina bastante com o clima que a história passa.
A Caçadora de Dragões é uma aventura interessante para os apaixonados por Fantasia. Um livro que conta sobre um reino afundado em medo de lendas e do poder que elas contém, e de uma garota corajosa o suficiente para aprender a entendê-las.
site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2018/05/resenha-cacadora-de-dragoes.html