Aione 08/11/2018Três adolescentes. Três Histórias. A mesma sensação de se estar perdido. Eu Perdi o Rumo, lançamento de Gayle Forman em 2018 publicado no Brasil pela editora Arqueiro, é um retrato sensível de uma das buscas mais importantes que podemos realizar: a busca por nós mesmos.
Freya perdeu a voz em meio às gravações de seu álbum de estreia, colocando em risco tudo o que construiu em relação a sua carreira nos últimos dois anos. Harun não sabe o que fazer após o término com seu namorado, especialmente porque sua família nem imagina — e não pode suspeitar — que ele seja gay. Nathaniel chega a Nova York com o objetivo de colocar seu plano em prática. Até que uma situação inusitada reúne os três, pouco a pouco dando contornos aos rumos que nenhum deles conseguia enxergar com clareza.
Eu Perdi o Rumo se desenrola ao longo de um único dia, no qual o contato entre os protagonistas vai revelando suas histórias passadas e o que os levou até ali. Para isso, a narrativa se constrói ora em terceira pessoa, com uso da técnica do discurso indireto livre que se alterna de acordo com a perspectiva de cada um, ora em primeira pessoa, revelando mais intimamente os detalhes do passado que tanto os assombra.
A escrita de Gayle Forman é de uma sensibilidade ímpar. Justamente por isso, a autora consegue retratar com maestria as angústias dos personagens. Apesar de suas situações serem completamente distintas, os três compartilham medos e vergonhas, culpas e cobranças, perdas e as tentativas de se lidar com elas. E, de maneira habilidosa, a autora vai envolvendo o leitor com uma narrativa fluida, que cativa e nos permite adentrar a intimidade de seus personagens. Também, ela constrói os acontecimentos de forma a guardar segredos que, na hora certa, são revelados causando a real significação de cada uma das jornadas ali descritas.
Acredito que o êxito de Forman esteja na veracidade com que ela descreve personalidades e emoções. As personagens são complexas, tomadas por sentimentos muitas vezes controversos, o que as torna palpáveis. Ainda, fiquei surpresa em como se deu o desfecho de um dos personagens: a escolha representa muito bem como nem tudo na vida acontece da maneira de como desejamos e que alguns caminhos não podem ser revertidos.
Não sei apontar qual dos elementos de Eu Perdi o Rumo mais me cativou. O que sei é que o li em poucas horas, sem sentir vontade de interromper a leitura, e me encantei com as tantas passagens que me tocaram profundamente. Foi um livro que, acima de tudo, me emocionou, especialmente por estar tão ligado às emoções de Freya, Harun e Nathaniel e por abordar temáticas delicadas, como sexualidade, as dificuldades nas relações familiares, transtornos mentais entre outros, com doses certas de drama, romance, representatividade e amizade. Independentemente do quanto as situações externas tenham sido construídas de forma mais superficial ou que tenham parecido em aberto, o que interessa na obra é o construído internamente às personagens. No resumo, Eu Perdi o Rumo se tornou um dos meus títulos favoritos da autora e uma das minhas melhores leituras de 2018.
site:
https://www.minhavidaliteraria.com.br/2018/11/08/resenha-eu-perdi-o-rumo-gayle-forman/