elainegomes 19/02/2023
Quanta dor!
Por diversas vezes fechei o Kindle com a intenção de abandonar o livro, mas a leitura de textos assim que machucam nos fazem encarar de frente quanto é privilegiada nossa vida de cidadã de primeira classe e quanto sofrimento carrega a alma de cada cidadã de segunda classe.
Quantas no passam por nossas vidas com o sorriso alegre e feliz, só para disfarçar as marcas, lágrimas e horrores suportados.
Cidadã de segunda classe vai nos contar a trajetória de sonhos, conquistas, dores e desilusões de Adah, e através de personagens fictícios a escritora Buchi Emecheta relata experiências da sua própria trajetória, é possível notar em diversos momentos o tom de angústia, submissão, misturados aos da coragem característicos da catarse autobiográfica.
Desde o nascimento, subjugada por ter nascido mulher, em um país patriarcal, depois órfã, abandonada e entregue a solidão, negociada por familiares como se fosse um objeto, mas sem nunca deixar de sonhar e buscar no impossível a realização de seus sonhos.
Destaco aqui, entre tantos sonhos, o emblemático sonho do colonizado viver em terras do seu colonizador, como forma de grito de liberdade, da Nigéria para Inglaterra, mais uma vez seu sonho se tornou seu algoz e passou a viver seus piores anos como cidadã de segunda classe, onde sentiu que ?sua cor era uma coisa da qual supostamente deveria se envergonhar? mas determinada, não desistiu e encontrou nos livros seu refúgio e conheceu James Baldwin quando finalmente passou acreditar que BLACK IS BEAUTIFUL.
Destaco um trecho:
?Se o pior se transformasse em muito pior, abandonaria Francis com os filhos, já que não tinha nada a perder exceto seus grilhões.?
Leitura difícil, mas fundamental!