spoiler visualizarDenise 10/10/2022
Carol: "Seja boazinha - ela disse"
Primeiramente, acho importante destacar a coragem da autora de escrever um romance LGBTQIA+ num contexto conservador como foi (e ainda é) aquele.
Durante a leitura, eu admito que me encantei muito pelo estilo de escrita da autora. As reflexões e metáforas da personagem davam uma atmosfera diferente pra realidade em que ela vivia, o que foi um fator importante para a descrição do ambiente, pois tinha muito da visão pessoal da Therese nisso. Porém, deixando de lado a escrita, a construção da personagem em si me incomodou um pouco. Therese inicia como uma garota auto-proclamada órfã, por não ter uma figura paterna ou materna marcante em sua vida (houve uma ruptura de laços com sua mãe). Ela trabalhava numa loja de brinquedos, atormentada pelo sistema capitalista e alienado, em que era "escrava" do relógio. Therese ainda tinha um certo complexo de inferioridade em relação às pessoas do trabalho, demonstrado com a Robitchek. Além de tudo, ela é uma garota nova, de dezenove ANOS, coisa que para mim foi uma surpresa. É com essa personalidade que ela conhece Carol, uma mulher mais velha. Há uma relação meio "mãe e filha" entre elas, com a "maturidade" da Carol em contraste com a da Therese, a mais nova. Assim, o romance possui uma construção psicológica meio freudiana.
Durante certo tempo, há apenas fagulhas de romance entre elas acontecendo, prevalecendo mais os pensamentos da Therese em relação a ela do que realmente cenas de reciprocidade entre as duas. Por um tempo, uma certa estranheza entre as conversas se sobressai, passei até a me questionar se rolaria algo ou se a Carol permaneceria a tratar ela como uma criança. Nesse ponto, acho que o livro falhou um pouco, deixando o romance entre elas um pouco de lado, sendo sustentado mais pelos sentimentos da Therese. Acho que a visão (POV) da Carol também era muito importante nesse ponto. Além disso, desenvolveu-se na protagonista uma certa obsessão pela figura da Carol, que se tornou um verdadeiro porto seguro na vida dela. A Therese não tem muitas amigos (talvez, só o Dannie a quem ela considere como um amigo), o que a torna, também, mais dependente emocionalmente da figura da Carol. Nisso, o romance entre elas se desenrola melhor na viagem, especificamente NA VIAGEM. Essa parte foi muito detalhista com a paisagem, ainda desenvolvendo a obsessão e dependência da Therese pela Carol (que ia além da paixão que existia). É nessa viagem onde elas se declaram e também onde se separam. A partir disso, Therese passa pelo que deveria ser um "amadurecimento" ao desapegar da Carol, mas as cenas que se passam só mostram o quanto ela era obcecada pela imagem dela, até que, ao final, ela 'rejeita' a Carol.
Acho que o livro foi meio descuidado na construção desse amadurecimento da Therese e na construção do romance em si também (até porque só tínhamos acesso à visão da Therese de toda essa relação). Até durante a separação, seria importante que tivéssemos uma ciência do que se passava com Carol, coisa que "ficou no ar". Por isso, considero que o livro tenha, pelo menos, três estrelas, mais pelo estilo de escrita que, de forma mais pessoal, me conquistou, mas também pela construção da história que não me agradou muito, pelo descuidado e pela tomada de decisões.