Dandara 06/09/2019
Um dos melhores livros que já li!
Acho que posso classificar "A Velocidade da Luz" como um dos melhores livros que já li. Trata-se de uma romance do escritor espanhol Javier Cercas e uma das características da obra é metalinguagem, isto é, a metaliteratura. Adoro livros que falam sobre a própria literatura em si. Além disso, há uma grande possibilidade do romance ser um relato autobiográfico do próprio autor, pois contém semelhanças com a vida de Javier Cercas.
A história é narrada por um escritor e seu nome não é mencionado em nenhum momento da obra, isso me chamou atenção desde as primeiras páginas, me intrigou o fato de não saber o nome do personagem principal. O início do enredo se passa em um bar de Barcelona, onde o narrador, um aspirante a escritor, conversa com seu amigo Marcos Luna, aspirante a pintor, sobre suas vidas decadentes e as dificuldades de progredir em seus projetos. Neste cenário, aparece Marcelo Cuartero, um professor, que oferece para o narrador da história uma oportunidade de lecionar literatura espanhola em uma Universidade em Urbana, meio-oeste americano. Sem nenhuma outra proposta, o narrador sem nome decide aceitar e sua vida vira por completo ao conhecer Rodney, um ex soldado da guerra do Vietnã, cheio de segredos, também professor e apaixonado por literatura, especialmente a catalã. Um belo dia Rodney some e o narrador sem nome sai em sua procura na cidade de Rantoul, onde Rodney vivia com seu pai. Chegado lá, o narrador conhece a verdade sobre a vida do amigo no Vietnã, isto é, alguns segredos que ele escondia, porque outros ficaram ocultos e só serão revelados, claro, ao final do romance. Através de cartas de correspondência que Rodney mantinha com sua família, o narrador pôde sentir um pouco o horror da guerra e o estresse pós traumático que tornava seu amigo "esquisitão", segundo o narrador. Depois de cumpridas suas obrigações na Universidade, este volta para sua Espanha e dá início à sua carreira de escritor. O tempo passa, nosso narrador casa-se com Paula e os dois têm um filho, Gabriel e depois de mais de 14 anos, Rodney reaparece, na Espanha, os velhos amigos encontram-se e talvez o clímax da história ocorra durante um bate-papo de um hotel madrilenho, à meia luz, verdades não ditas por Rodney nas cartas que mandava a seu pai, lacunas que precisavam ser preenchidas para a história fazer sentido na cabeça do narrador, que confessa sua vontade de escrever sobre seu amigo. Depois desse encontro, os dois não se veem mais. Antes mesmo de começar a escrever sobre seu amigo, o narrador torna-se um escritor famoso, seus livros tornam-se best sellers e o terrível peso da fama invade a vida dele, sem saber lidar com ela, transforma-se numa pessoa fútil, superficial, promíscua. Sua família morre em um acidente de carro e movido pela culpa, o narrador não resiste à depressão, se afasta dos amigos, dos eventos e decide viver sua vida reclusa longe de todos. Contudo, lhe vem à cabeça seu amigo Rodney, no âmago de sua angústia, ele vê no velho amigo a única pessoa capaz de compreendê-lo, por ter vivido experimentado tantos dessabores na vida. Determinado, o narrador aceita um convite para palestrar em diversas universidades americanas como uma desculpa para encontrar Rodney. Chegando em Rantoul, todavia, ele tem uma surpresa. Paro por aqui pra deixar uma expectativa no leitor que lerá o livro.
A escrita de Javier é dura e crua, sem meandros. São apenas três capítulos, os parágrafos são grandes, mas não são cansativos. Só lamento não ter descoberto este livro antes.
Para finalizar, nesta edição da TAG, o posfácio do Carrascoza para mim foi como uma continuação da história, sem ele, talvez não teria mexido tanto comigo.