Rafael 25/11/2023
Um título digno da obra
Javier Cercas não poderia ter escolhido um título melhor para seu livro do que escolheu. Para atingir a velocidade da luz precisamos, inevitavelmente, iniciar um movimento até alcançá-la. E é exatamente isso que Cercas faz em sua obra. O livro, que tem um início despretensioso e até um pouco enfadonho, assume, de forma vertiginosa, contornos que levam o leitor a, num átimo, percorrer meandros da condição humana de uma profundidade sem igual. Durante a leitura, me pareceu que o movimento da narrativa é muito semelhante ao que ocorreria se fosse possível atingirmos a velocidade da luz. Ou seja, iniciamos o movimento e, de repente, ele já se completou, de tão rápido. Talvez nossa vida se dê na velocidade da luz sem que tenhamos a percepção real disso, pois, quantas vezes nos deparamos com a reflexão "nossa, mas isso já ocorreu" ou "não esperava fazer tantos anos tão cedo" ainda "já passou isso tudo desde o ocorrido, para mim parece que foi ontem". Contar uma vida em pouco mais de 200 páginas é, igualmente, uma demonstração de que nos movemos na velocidade da luz. Mas não são só essas reflexões que o livro suscita. Para além disso, Javier Cercas faz uma sensível e intensa reflexão sobre realidade e ficção, sobre as nuances que separam essas duas condições que, aparentemente tão distantes, na verdade se confundem a todo momento. Quanto há de ficção na sua realidade e quanto há de realidade na sua ficção? Difícil responder se você perceber, como Javier Cercas demonstra neste livro, que realidade e ficção são, na verdade, duas faces de uma mesma moeda. Um livro fantástico e humano, que renova nossa capacidade de ter empatia e compaixão para com o ser humano e suas inerentes contradições.