alinevianadp 04/01/2022
Muito mais do que um livro sobre guerra
Foi a primeira vez que eu li um livro editado especialmente para o clube de assinaturas da TAG Livros. E, depois dessa minha experiência, foi inegável concluir que a qualidade da publicação é enorme: a capa, além de ser dura, tem uma textura deliciosa e é linda; o miolo é impresso num papel de gramatura excelente, ótimo de manusear; e a fonte tem um tamanho muito satisfatório e confortável à leitura.
?A Velocidade da Luz? é um livro denso, pesado. Isso, no entanto, não faz com que sua leitura seja arrastada. Muito pelo contrário: a narrativa é de uma fluidez impressionante. É possível ler páginas e mais páginas em uma só sentada.
Javier Cercas, autor do livro, é um escritor espanhol e professor de literatura espanhola que nasceu na década de 60, tem alguns livros publicados e já ganhou vários prêmios literários. No romance ?A Velocidade da Luz?, ele retrata a relação entre um escritor espanhol e Rodney Falk, um professor universitário norte-americano que atuou como combatente na Guerra do Vietnã.
O livro é dividido em quatro partes e narrado em primeira pessoa pelo escritor espanhol que eu mencionei ali em cima, e cujo nome não é revelado ao longo da narrativa. Logo no primeiro parágrafo do livro, o narrador afirma ?eu ainda era eu? antes de conhecer Rodney Falk. Daí já dá pra inferir que o encontro entre esses dois personagens será perturbador e impactante. Mas, de início, a gente fica sem saber exatamente o porquê disso (e obviamente eu não vou revelar essa razão aqui nesta resenha).
Nas primeiras páginas do livro, descobrimos que o seu narrador é um escritor frustrado e sonhador, que ambiciona ganhar a vida por meio da literatura, mas que só tem frustrações a colecionar. Ele conheceu Rodney em Urbana, quando ambos lecionavam na Universidade e tiveram a oportunidade de dividir uma sala. Rodney, por sua vez, é um homem misterioso, de poucos amigos, melancólico e instigante.
Embora, como eu tenha mencionado, Rodney fosse uma pessoa de poucos amigos ? ou de praticamente nenhum amigo ?, o narrador e ele conseguem travar uma ?espécie? de amizade, e acabam compartilhando, durante várias tardes, a mesa de um bar. Nessas oportunidades, estabelecem conversas afiadas, ásperas e ácidas, nas quais surgiam vários assuntos, entre literatura, perspectivas profissionais, sonhos, ilusões, política.
Rodney, sempre muito crítico e cheio de personalidade, é uma pessoa interessante, que profere seus discursos com propriedade e, com isso, desperta o interesse do narrador em tê-lo como interlocutor. E, por isso, pode-se dizer que se tornaram amigos.
Essa amizade, contudo, não gerou uma intimidade suficiente para que Rodney revelasse ao narrador seu passado, seus medos e suas angústias. E só após a ocorrência de um mistério (de que ficamos sabendo na primeira parte do livro) é que o narrador passa a ter acesso a retalhos do passado de Rodney. Esses retalhos, todos associados à Guerra do Vietnã, despertam não só a curiosidade do nosso narrador, como também a nossa, enquanto leitores. Os casos de guerra que são contados prendem muito a atenção, e nos deixam com aquela vontade de conhecer a fundo o que ocorreu com Rodney em seu passado como combatente de guerra, para podermos entender melhor as escolhas e os comportamentos futuros do ex-soldado. E não só isso: queremos saber, também, como Rodney foi parar no Vietnã ? o que fez com que ele se tornasse um combatente.
?A Velocidade da Luz? é um livro de guerra. Mas, muito mais do que isso, é uma obra sobre autoconhecimento, escolhas, solidão, relações familiares, amizade, honra, convicções e princípios morais, remorso, resignação e lealdade.
Eu super recomendo a leitura, e mais: se possível, leiam essa edição da TAG Livros. E não deixem de ler o posfácio escrito por João Anzanello Carrascoza: seria pecado deixar de ler um posfácio tão surpreendente quanto esse. Garanto que vale MUITO a pena!