Aegla.Benevides 28/12/2022"Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece.? Essa frase é de Ricardo Corrêa da Silva, dono de um dos rostos mais conhecidos de São Paulo. Contrariando o jornalismo por dinheiro e por mídia - reforçados pelas notícias dos últimos dias -, Chico Felitti constrói nesse livro um trabalho humano e incrível sobre a vida de Ricardo, conhecido por muitos como Fofão da Augusta (por conta do silicone injetado sob seu rosto), e Vânia, o amor da sua vida.
Ricardo foi um homem gay nascido no interior de São Paulo. Muito novo mudou-se para a capital e logo ficou conhecido por seu talento como cabeleireiro, profissão através da qual atingiu o auge da vida e conheceu Vânia, na época chamada de Vagner. Os dois jovens, apaixonados, artistas e obcecados pela beleza, começaram então a injetar silicone no próprio corpo, e a partir daí tudo mudou ? quando faleceu em 2018, calcula-se que Ricardo tinha cerca de 1,5L de silicone sob o rosto.
Tendo sua trajetória e vida pessoal homenageados por Felitti (a forma como o destino dos dois se cruza é uma coisa fantástica de se ler), Ricardo teve em seus últimos meses de vida, enfim, um pouco de descanso. Não satisfeito com o trabalho magnífico entregue na primeira metade do livro, o autor traz também um pouco sobre a história de Vânia, mulher trans que teve um longo relacionamento com Ricardo no passado e que hoje vive na Europa ? como e por quê seus destinos foram tão diferentes, se na juventude eram tidos como iguais?
O sentimento ao fim da leitura é a admiração. Por Ricardo, que teve coragem para correr atrás dos seus objetivos e que não tinha vergonha de viver; por Vânia, que sempre foi uma mulher decidida e uma grande artista; e por Chico, que emociona o leitor com seu trabalho sensível e respeitoso. Por fim, acho que não preciso falar, mas foi a melhor leitura do ano até agora.