@de.leitura por Vinicius Machado 12/09/2020
Este Grito Também Lhes Pertence
Primeiramente, gostaria de dizer que esse livro é cru. Cru em todos os sentidos da palavra. Ele é duro, sem piedade, chocante, brilhante e feroz, assim como a biografada. Ele, como diz sua primeira página, é um grito que pertence a todas as travestis que nunca tiveram suas histórias ouvidas. A vida de Luísa não foi bonita, mas mais importante, ela não é incomum.
Através do processo de Luísa para se tornar seu verdadeiro eu, ela nos leva pela jornada da mulher transsexual no país mais transfóbico do mundo. Ela não esconde nada. Muito pelo contrário, sem dar nomes por medo da morte, Luísa nos conta os bastidores do mundo da prostituição, do tráfico sexual e da fama. Ela joga tudo no papel, suas dores profundas que cicatrizaram com muita força e também seus amores correspondidos ou não. Luísa nos dá sua completa dimensão humana.
Esse livro lindo, de leitura fácil e relativamente rápida, mas com uma carga pesada que te faz pensar a cada virada. Por fim, para citar a própria Nana Queiroz no seu epílogo, ?eu não sei como a Luísa sobreviveu a tudo e mais importante, sempre demonstrando compaixão e bondade durante tudo. A única certeza que tenho é a de que eu não conseguiria.?
Luísa Marillac é youtuber, ativista, militante e acima de tudo, sobrevivente. Ficou famosa graças ao bordão ?Isso é ta na pior??, com a imagem imortalizada na beira da piscina, tomando seus ?bons drink?.Agora com seu livro de memórias, Luísa dá sua face nua e crua para o público.
Nana Queiroz é escritora e jornalista, formada na USP e estuda questões de gênero desde a universidade. Autora do também incrível ?Presos Que Menstruam?, ela ajuda Luísa a transpor sua vivência para o papel de forma linda e com muita habilidade.