Andresa Dias 23/05/2020Ótimo prequel! Suzanne Collins nunca erra! Falar de The Ballad of Songbirds and Snakes é um pouco difícil. Eu sou fanática pela trilogia original e eles são meus livros favoritos da vida e eu realmente não sabia o que esperar desse livro quando ele foi anunciado, afinal o que a história de um vilão sem coração tinha a nos oferecer?
Eu vejo esse livro como um ótimo prequel, pois além de termos alguns easter eggs ao longo do livro, podemos ver que o Snow sempre teve um pé pro vilanismo. É importante conhecermos seu passado e como ele chega onde chegou. Snow é possessivo, ambicioso, calculista, egoísta, orgulhoso e vê tudo como um meio para o fim. Ver o início de tudo que já conhecemos na trilogia agrega muito à história. E acredito que esse é um livro importante dentro do mundo Jogos Vorazes.
Também vemos mudanças drásticas nos Jogos Vorazes, que antigamente não era visto como entretenimento e as pessoas não gostavam de assistir, nem mesmo o pessoal da Capital. É a partir dessa edição que as coisas começam a mudar e descobrimos as motivações para isso.
Temos personagens odiosos, mas também temos aqueles pelo qual torcemos e passamos a gostar. É uma pena que, apesar da narração ser em 3ª pessoa, ela é focada na visão de Snow e nem sempre podíamos estar perto de outros personagens e suas histórias. Lucy Gray e Sejanus são os destaques positivos pra mim e Dr. Gaul a personagem mais detestável. Não podemos esquecer de Tigris, que aparece no último livro da trilogia original e aqui podemos conhecer um pouquinho mais dela.
Um ponto que acho importante citar é que não achei que Snow foi humanizado nesse livro. Desde o início ele demonstra ser egoísta e pensar em si próprio e na importância do nome da família. Acho que podemos ver que existe um caminho diferente que ele poderia seguir, mas quem ele realmente é e no que acredita, fica claro ao longo do livro. Foram as escolhas dele que o levam a ser quem ele é e acho que desde o início isso ficou claro pra mim. O que eu vi foi um jovem que apesar de parecer fazer a coisa certa em diversos momentos, sempre tem em pensamento um interesse por trás daquilo, um meio para um fim. Não vi inconsistência na construção do personagem.
O livro traz reflexões sobre a natureza humana. Somos maus por natureza? Ou somos corrompidos pelo ambiente, pela sociedade? Precisamos ser controlados? Precisamos de leis para não haver caos? Até que ponto isso se torna benéfico e para quem se torna benéfico.
O epílogo é extremamente importante e nos mostra uma visão mais clara de como será o futuro de Snow e as modificações para os próximos Jogos Vorazes.
O livro não agradará a todos, pelo contrário, muitas pessoas vão criticá-lo. Ele é longo, lento e tem um protagonista pelo qual não torcemos em nenhum momento da história e que não cria nenhuma simpatia no leitor, então sim, isso pode afetar a experiência da leitura.
Não amei esse livro como amo a trilogia, mas gostei bastante do que li. Houveram momentos que a leitura ficou arrastada sim (talvez por ter ouvido em audiobook em inglês pela primeira vez e me distrair a todo momento), não nego, mas a história é bem construída e foi importante conhecer mais do passado pra entender o futuro. Poderia ter menos páginas. E se Suzanne quiser continuar mergulhando no mundo de Jogos Vorazes eu vou continuar lendo, um atrás do outro.
Algumas citações (traduzidas livremente por mim):
"Se é impossível terminar a guerra, então temos que controlá-la indefinidamente. Assim como fazemos agora. Com os Pacificadores ocupando os Distritos, com leis rigorosas e com lembretes de quem está no comando, como os Jogos Vorazes. Em qualquer cenário, é preferível ter vantagem, ser o vencedor em vez do derrotado."
"Você pode culpar as circunstâncias, o ambiente, mas fez as escolhas que fez, mais ninguém. [...]"
"Você não tem o direito de fazer as pessoas passarem fome, de puni-las sem motivo. Não tem o direito de tirar sua vida e liberdade. É com isso que todos nascemos e não são seus para tirar. Ganhar uma guerra não lhe dá esse direito. Ter mais armas não lhe dá esse direito. Ser da Capital não lhe dá esse direito."
OBS: Li em audiobook em inglês e finalizei a leitura em 22/05/2020.