NutNut 22/01/2023
Shakespeare e sua camisa polo.
A primeira peça teatral que li, e consequentemente meu primeiro contato com a escrita do lisonjeiro Shakespeare.
Logo de início soube que apesar do tamanho do livro a leitura seria densa, com vários personagens em cena e uma linguagem um pouco mais rebuscada.
Depois que estes traços deixam de ser um obstáculo tudo se torna mais fácil, o enredo flui rapidamente e prende a atenção do leitor. É um livro bem engraçadinho, e tem um drama muito charmoso, é formado de diálogos e tem pouquíssima participação de um narrador observador, muito sutil.
Acho justo pôr uma menção honrosa ao tradutor do meu exemplar, Millôr Fernandes que fez um trabalho espetacular ao adaptar a melodia nas falas, explorou muito bem o potencial lírico do português.
Gosto muito da escrita como acabo de deixar óbvio, mas tenho que ser sincera sobre meu descontentamento ao final.
Compreendo o período histórico, mas é justamente esse fator que me faz questionar a intenção do autor ao escrever o que escreveu.
A última fala não só descaracterizou completamente Catarina, mas dissolveu toda a sua originalidade no intuito de superiorizar Petrúcio com suas "admiráveis" táticas de manipulação, que na verdade foram bem patéticas, ainda mais por terem funcionando.
Misoginia e sexismo sem máscaras, ou sequer roupas. Francamente, dado o seu valor dentro das artes, eu esperava que William Shakespeare fosse um pouco mais inovador, um pouco menos produto insalubre de sua época.
Mas não considero uma leitura desperdiçada, dadas as possibilidades de interpretação e a qualidade vocabulária, A Megera Domada se salva, não como uma obra extraordinária, mas como um livro legalzinho.