Itamara 15/05/2021"... e no fim tudo que existe é a escuridão".Na minha fracassada tentativa de ler Stephen King em ordem cronológica, adiei um tempo a leitura de "À espera de um milagre" porque faltavam uns 30 livros publicados antes. Não me aguentei (há algum tempo isso acontece, na verdade) e resolvi furar a fila. Terminei há dois dias e minha memória inteira ainda está na Penitenciária Cold Montain e em todos os personagens dessa obra que entrou na lista de favoritos da vida.
O ano é 1932, EUA no período da depressão econômica e com uma sociedade majoritariamente racista. Por meio da narração em 1° pessoa pelo guarda penitenciário Paul Edgecombe, conhecemos a história de John Coffey e de como sua condenação à cadeira elétrica mudaria muitas vidas. Já na velhice, Paul traz à tona as memórias do ano em que John é preso por estuprar e matar duas menininhas de forma brutal e vive seus últimos dias à espera da morte. Afinal, um homem tão cheio de sentimentos seria capaz de cometer tamanha atrocidade?
Com maestria, Stephen King consegue aqui a proeza de misturar nossos sentimentos e criar empatia inclusive com assassinos destinados ao corredor da morte por crimes horrendos e ainda torcer para que alguns deles escapem da Velha Fagulha. Durante a leitura, várias reflexões vão surgindo e nos deparamos com questões que envolvem injustiças, o valor da vida e da morte, os julgamentos que fazemos por aparência, escolhas que não podem ser adiadas, laços de amizade, ódio... personagens e ambientação bem desenvolvidos, ótima estratégia de retomada entre os capítulos, final EMOCIONANTE.
Uma leitura pesada e que trata de temas delicados, então talvez seja preciso um pouco de coragem para encará-lo. Como algumas outras obras de SK, o terror aqui está nas ações humanas, nas pessoas do nosso convívio, nos nossos vizinhos e colegas de trabalho. O terror que está em nós mesmos. Entretanto, garanto que vale à pena porque ao final você certamente será uma pessoa melhor.
"Cada um de nós tem compromisso com a morte, não há exceções, sei disso, mas às vezes, oh meu Deus, o Corredor Verde é muito comprido".