Mariana 25/12/2017Cem Escovadas antes de ir para a camaEsse é um livro que me persegue desde que eu era uma jovem adolescente. Quando eu tinha doze anos, eu li um artigo na falecida Capricho sobre o polêmico e sujo "Cem escovadas antes de ir para cama" e confesso que pensei muito nesse livro pelos dias seguintes, simplesmente porque era muito difícil acreditar que uma adolescente tinha vivido todas aquelas coisas estranhas, bizarras e precoces. Lendo o livro, entretanto, eu consegui entender.
O livro (que, segundo a autora, se baseia em suas próprias experiências adolescentes) mistura uma narrativa erótica pesada com as divagações de uma menina insegura e um relato pessoal muito forte. A narrativa é muito rica e cheia de detalhes, desde os detalhes mais sexuais e descritivos aos mais íntimos. Durante a história, conhecemos a fundo a nossa protagonista. Melissa se revela nas páginas ao estilo diário e acompanhamos uma narrativa poética e delicada, nos assustando e nos impressionando a medida que ela chega ao fundo do poço.
A história de "Cem escovadas antes de ir para a cama" não é um simples romance erótico, não é uma narrativa para nos deixar excitados. É um relato triste de uma menina que se perdeu no caminho para a vida adulta. No início dessa jornada, conhecemos uma menina de 14 anos muito sabida de sua sexualidade e daquilo que faz bem para si própria. Melissa se masturba apenas pensando em si própria, seu corpo lhe basta e o sexo nunca foi uma necessidade.
Melissa é muito eloquente e coerente no ponto inicial, mas podemos perceber suas inseguranças adolescentes quanto ao futuro. Será que um dia ela encontrará alguém que a amará sem limites? Será que ela merece ser amada? Melissa confessa para seu diário seus questionamentos mais profundos e, apesar de toda sua preciosidade quanto ao seu sexo, nós acompanhamos sua insegurança se apresentar quando ela conhece Danielle.
Danielle é um rapaz mais velho, o primeiro homem com quem nossa protagonista se relaciona e, também, o responsável por fazer com que o gatilho dispare na cabeça de Melissa e sua queda comece. Melissa quer se amada e acredita amar Danielle, mas ele não a ama e deixa isso muito claro. Danielle é uma decepção na vida de Melissa e ela não vê alternativas senão abandoná-lo e viver sua vida de uma maneira que ela achou que traria seu amor: se entregando de corpo e alma para quem a quisesse.
A partir daí, Melissa começa a se relacionar de maneira destrutiva com todos os homens que cruzam o seu caminho. Na tentativa de encontrar um amor, ela se embrenha no mundo do sexo. Não serei puritana e dizer que sexo faz mal porque não faz, mas a abordagem que damos a esse assunto define a maneira como vamos nos relacionar com ele e como vamos usá-lo para nos descobrir.
Melissa ainda era uma menina e não conhecia o sexo, não sabia o que estava fazendo quando se entregou para Danielle e ainda não sabia quando participou de orgias. Sexo não é degradante e não é sujo quando todos os envolvidos sabem o que estão fazendo e não se arrependem na manhã seguinte. Melissa podia sentir o prazer do sexo durante a noite, mas se enchia de dúvidas quando amanhecia.
As experiências que a Melissa tem durante a narrativa desse livro são muito pesadas para alguém em formação, são um caminho errado para o autoconhecimento. Melissa se molda de acordo com a maneira que é tratada por aqueles que abusam dela (abusar no sentido de apenas a usarem).
Para o professor de matemática, ela é Lolita. Para Danielle, ela é apenas uma virgem que precisava dele para se livrar daquela "mácula". Para o palestrante que ela conhece na escola, Melissa é apenas uma atração para ser levada até sua casa de campo para realização de suas fantasias. Melissa se perde enquanto pessoa e enquanto personagem durante a trama. Ela se entrega ao prazer daqueles que a usam.
É importante lembrar que a nossa protagonista era uma adolescente usada por homens mais velhos, abusada sexualmente por homens que deveriam ser responsáveis, que deveriam respeitá-la e não o faziam. Melissa não é uma vagabunda, como eu já li em algumas resenhas. Ela era uma menina explorando sua sexualidade de uma maneira que a fez apertar o freio depois de dois anos e perceber que tudo aquilo não estava fazendo bem.
A narrativa desse livro é muito importante, especialmente para adolescentes. Os detalhes eróticos são apenas um detalhe. No final das contas não interessam as cenas de sexo, mas o que podemos aprender com elas. Eu aprendi que existia uma menina insegura por debaixo daquela máscara de segurança e prazer. Quantas não devem existir por aí?
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