Anos atrás (em 2017), quando comecei a ler alguns romances machadianos, deparei-me com Esaú e Jacó e pensei que se tratava de uma explicação bíblica amplificada e detalhada. Todavia, enganei-me e, ao ler sua sinopse, vi que se tratava da rivalidade entre dois irmãos por uma mulher.
Ao começar a leitura, esperei bastante (em minha concepção e grande paciência, foram mais de 9 meses de gestação) pelo nascimento dos gêmeos Pedro e Paulo. Achei bastante interessante o fato citado pela adivinha/necromante de que, desde o ventre, os irmãos se odiavam.
Ao crescer, disputam a mesma moça, Flora, e um decorrer de situações acontece.
No desenvolvimento, parece que o livro foi feito exclusivamente para Aires, porque ele era praticamente o protagonista do livro e essa tangência me aborreceu demais. Quis ver um triângulo amoroso, mas o foco foi esse senhor durante boa parte da obra.
Ao finalizar a leitura, lembrei-me duma frase dos filósofos iluministas Rousseau e Hobbes, os quais disseram, respectivamente: O homem nasce bom, a sociedade que o corrompe e O homem é mau por natureza.
Através da intertextualidade e criando um contexto adequado à obra, questiono: ambos os irmãos se odiavam por alguma força à parte ou simplesmente pela natureza?
O que pode ter ocorrido durante a concepção deles, ou, numa estipulação fictícia, já brigavam antes mesmo de habitarem o ventre materno?
Até criei uma teoria cujos Pedro e Paulo foram inimigos numa vida passada e, como castigo, reencarnaram irmãos gêmeos. Cômico, não? Isso me recordou uma reflexão da trilogia do Antes, dirigida por Richard Linklater, acerca da incoerência da reencarnação. Vejamos: Hoje existem 8 bilhões de pessoas, portanto 8 bilhões de almas no mundo, mas há apenas 200 anos havia 1 bilhão. Como se multiplicaram durante toda a história da humanidade? Ou não temos almas, mas fragmentos minúsculos de almas?
O Bruxo do Cosme Velho é genial! Esses pequenos detalhes metafísicos são brilhantes, e a análise do contexto brasileiro na dualidade monarquia vs. república entre os irmãos equilibra essa obra ímpar.
Rebecca (não a mulher inesquecível, tampouco a mãe)