Nascida em Amherst, nos arredores de Boston e numa das regiões mais puritanas dos EUA, Emily Dickinson passou praticamente metade da vida em reclusão autoimposta. Quando a escritora morreu, em 1886, aos 55 anos, sua irmã encontrou em seu quarto alguns cadernos que, costurados à mão, continham mais de 1.700 poemas, dos quais apenas uma dezena havia sido publicada em vida por Dickinson - e, ainda assim, sob anonimato. Desde então, sucessivas edições de sua obra fizeram com que ela atingisse o epicentro da poesia norte-americana, ao lado de Walt Whitman. Da mesma maneira, os poemas amorosos misteriosamente intensos dessa ermitã alimentaram a lenda de que seriam dirigidos a uma paixão secreta (supostamente, o pastor Charles Wadsworth). Pouco importam, porém, os eventuais traços biográficos que porventura estejam por trás dessa poesia, em que o sentimento de um vazio essencial sublima seus temas recorrentes - natureza, amor, solidão, fé e morte - por meio de profundidade reflexiva e complexidade linguística prodigiosas.
Manuel da Costa Pinto - Crítico literário e colunista da Folha
Poemas, poesias