@leitoraemformacao_ 03/05/2024
Ensaio sobre a cegueira ou O retrato do egoísmo?
O nome desse livro poderia ser perfeitamente trocado por O retrato do egoísmo!
Foi difícil de ler, não só pela escrita única e desafiadora do autor, mas também porque a história escancara o mal que habita no mundo e no homem sob diversos aspectos.
O fato dos personagens não terem nome caracteriza muito bem a desumanização do povo, que mais parecem animais cruéis nas suas ações.
O tempo inteiro eu pensava "ninguém se salva aqui?" E não estava me referindo à cegueira sem razão que se espalhou por todos os cantos como uma epidemia. Estava me referindo à falta de atitudes de caridade, empatia, bondade, solidariedade, amor ao próximo mesmo que em situações extremas e, de forma que chegava a sobrar, à indiferença, ruindade, insensibilidade, falta de coletividade, deslealdade, desonestidade, injustiça, corrupção, más intenções, nenhuma consciência e responsabilidade moral de muitos e por aí vai...
Ainda bem que houve momentos de esperança na humanidade. Talvez por isso o final tenha sido como foi. E, a propósito, a conclusão me surpreendeu bastante, não esperava que "tudo se resolvesse" daquela forma. Se eu tivesse que resumir o desfecho em uma frase, diria: afinal, há redenção para o homem?
A pergunta que nos acompanha do início ao fim é: qual a razão da cegueira? Não sei o que levou o autor a construir a narrativa, qual lição ele queria nos passar, mas se me fosse confirmado que a ideia era mostrar que mesmo enxergando, já somos a materialização do mal, cegos somos a mesma coisa ou pior. Afinal de contas, muitas das ruindades realizadas não são exclusivas da população que cegou, pois, aqueles que demoraram um pouco mais pra sofrerem do mesmo mal, foram tão cruéis ou pior.
Por isso concordo com a mulher do médico quando disse "penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem."
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"Na verdade, ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra."
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Amei minha primeira experiência com Saramago ???