Laura 25/04/2024
Abismal
Demorei mais de 30 anos e mais de 300 livros pra finalmente ler esse que em meu pensamento já prometia e rubricava há mais de uma década um garantido deleite (vi o filme no cinema em 2008 e li outros livros do Saramago na juventude).
Me dividi o tempo todo, não só durante a leitura, mas em qualquer momento no meio do dia em que me lembrava dela, entre a admiração e a repulsa. Ora me enchia de uma fé na humanidade (que nunca tive sequer no sobrenatural) tanto pela genialidade da obra, quanto pelas ações da mulher do médico (que, claro, poderia ser chamada somente de ?a mulher?), ora me despia de qualquer resquício de esperança. São do jeito que são. Somos do jeito que somos.
As linhas da moral, da ética, do senso de sobrevivência e do senso de comunidade se embaralhando, justapondo e escondendo nas carcaças do que outrora acreditavam ser tantas mulheres e tantos homens. A resistência no corpo e na alma da que carrega nos olhos uma verdade diferente da dos demais (?(?) é que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos, não sou rainha, não, sou simplesmente a que nasceu pra ver o horror, vocês sentem-no, eu sinto-o e vejo-o?). E, por fim, a pergunta que deveria sempre aparecer: quando vamos todos conseguir ver?