Aninha 16/10/2020Campo GeralCampo geral foi um livro difícil pra mim. O estilo dessa obra é uma novela, ou seja, não é nem conto nem um livro propriamente dito (pelo que eu entendi), mesmo assim, achei muito dificultoso o livro ser corrido dessa forma, porque não é dividido em capítulos. A história começa nas primeiras folhas e vai terminar nas últimas mesmo, sem pausas. Eu achei que isso até prejudicou o meu ritmo de leitura que nunca sabia onde que eu podia parar e etc.
Mesmo assim, é interessante observar de que maneira Guimarães Rosa acaba trazendo dinâmica para os acontecimentos dessa novela, pois ele não quebra abruptamente de uma cena à outra. Sempre há uma linkagem entre os pensamentos, opiniões e a visão do que estava acontecendo pela perspectiva do personagem principal.
Outra característica que está bastante presente são as marcas de oralidade, uso de onomatopeias e neologismo, o que releva o linguajar das famílias interioranas do sertão naquela época. É um recurso bastante importante para ambientar a história.
Dito isto, dá pra reconhecer o principal objetivo dessa história que é a demonstração e discussão de infância e amadurecimento. E todas essas questões envolvidas como autoconhecimento, formação de personalidade, desenvolvimento da autocrítica, diferenças entre infância e fase adulta e discussões sobre inocência, ingenuidade e covardia.
Pelo que eu estudei, o autor busca com grande frequência trazer as perspectivas de crianças, que realmente são um grupo que não possuem tanta participação nas narrativas de forma central. É interessante visualizar a forma de pensar de uma criança (Miguilim - o personagem principal) e os processos de formação de opinião através da mente dos outros, principalmente dos adultos, que comumente são os que tem "mente formada", e mais especificamente do irmão dele, o Dito, que é retratado de maneira mais amadurecida e firme em suas próprias opiniões (por mais que este seja mais novo que Miguilim). Assim, vários são os acontecimentos que demonstram esse crescimento do personagem e servem de sinais para evidenciar também o reconhecimento desse fato pelas outras pessoas que estão naquele mesmo meio.
Contudo, esse processo foi apresentado de maneira pouco romantizada, devo dizer, até porque são muitas as dificuldade, tragédias e dramas que a família de Miguilim sofre e com isso, o personagem tem que lidar da melhor maneira possível para entender tudo isso (o que é mostrado dentro da narrativa - os pensamentos confusos acerca dos fatos ocorrentes). Um exemplo dessa construção de opinião própria que resume todo esse objetivo é a constatação de que o Mutúm (lugar que se passa a história, localizado no sertão no centro-oeste) é um lugar bonito através da metáfora dos óculos no final do livro, quando desde o início é mostrado como muitos de seus familiares consideram o Mutúm feio.