Léxico familiar

Léxico familiar Natalia Ginzburg




Resenhas - Léxico Familiar


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Pandora 26/05/2019

Em "Léxico Familiar" Natalia Ginzburg usa as palavras para realizar a fabulosa arte magia de manter viva até a noite dos tempos todo seu núcleo familiar.

Seu tempestuoso pai, sua amarosa mãe, Mário, Gino, Alberto, Paola, ela mesma, seus amigos, os montanhas no Inverno, seu trabalho na editora. A vida entre a Primeira e Segunda Grande Guerra, todo um mundo que não existia mais e que agora existe dentro desse livro.

Léxico Familiar é um livro terno, sobre memórias e afetos. Um livro escrito em uma prosa lírica, quentinho como um cobertor desenhado pela escrita leve que as vezes explode da Natalia.

Sou uma pessoa nostálgica por vocação então me emocionei ao longo da leitura e terminei ela com lágrimas nos olhos e muita ternura no coração.
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Ah, a Ginzburg é italiana como a Elena Ferrante, mas quem for ler uma pensando encontrar a outra pode se frustrar. A Ferrante é capaz de fazer da rotina de uma mulher recém separada um filme de suspense no qual a todo instante nós pensamos "alguém vai morrer". A Natalia escreve histórias nas quais alguém morre sem levantar poeira alguma, o que se dirá suspense.

Eu particularmente gosto das duas italianas.
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Ana Luiza 19/08/2018

Léxico Familiar – Natalia Guinzburg
SOBRE O LIVRO

Publicado em 1963, este é um relato sobre a vida cotidiana de uma tradicional família judia da burguesia na Itália, mais precisamente em Turim. Na primeira metade do século XX o país da escritora era mais um da Europa humanista e incentivadora das artes a sofrer com o avanço dos regimes fascistas e a criação de leis raciais que tornou milhares de cidadãos apátridas sendo obrigados a deixar para trás uma vida junto de seus familiares, ou ainda, por muitas vezes vendo sua família ser destroçada pela guerra que se seguiu.

“Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada.”

Sob a perspectiva de um mundo prestes a desabar, o livro se desenrola à partir do ponto de vista da autora que também é quem nos narra os fatos de sua própria vida na casa onde cresceu com seus pais e irmãos. Trata-se da história de uma família real, mas que deve ser lido como um romance.

Começando por uma semana de férias nas famosas montanhas que o patriarca da família proporcionava, as cenas são comuns: um jantar, uma roda em volta da lareira com a mãe contando casos e os resmungos frequentes do pai sempre tão impaciente. É assim que seremos aos poucos levados, por debates exaltados, a nos sentir parte desta família.

MINHA OPINIÃO

É impressionante como a arte de contar “causos”, por mais tristes ou reais que sejam é sentida tão intensamente pelo leitor nessa obra. O que a autora proporciona aqui é que sejamos parte de sua família, escrevendo em forma de romance fatos cotidianos que, não fosse pelo período em que se passam, todos poderiam se identificar. A doçura de uma mãe, a aspereza de um pai e as diferenças entre irmãos são a cereja do bolo deste livro onde o regime fascista afasta famílias, amigos e amantes. Cada “personagem” desta história colabora em algum momento para que a narrativa flua e encante o leitor cada vez mais.

A história nos é contada como se já a tivéssemos ouvido antes ,mas estivéssemos sendo carregados pela alegria de ouvi-la novamente. Sendo extremamente original por ter sido parte de uma experiência, é sem dúvida fascinante. Acredito que, por este motivo, apesar de ser escrito como se contado verbalmente, não trazendo divisão em capítulos, a leitura transcorra tão facilmente, sendo um pouco difícil, no entanto, parar em uma página e voltar a lê-lo, perdendo o fio da meada. Este é um livro para ser devorado.

Um dos personagens mais interessantes é o patriarca da família, aquele que chama aos filhos de “negros” ou diz que fazem “negrices” quando se comportam de forma deselegante, ou de “burro” se lhe fazem algo que seja considerado tolo ou inapropriado. O que quero dizer com este exemplo é que é preciso entender que algumas coisas são ditas em sentidos diferentes daqueles que aparentam, outras não passam de uma “parvoíce” do próprio ser que é, e outras não devem ser levadas tão a sério, mas sim, olhadas sob uma outra perspectiva.

Sendo este o relato sobre uma família de judeus, é claro que iremos nos deparar com a representação do que foi o regime fascista na Itália, como os nazistas chegaram e separaram famílias e a autora viu seu pai e dois de seus irmão serem presos, seu marido desaparecer e muitos daqueles com quem cresceu serem dizimados. No entanto, o propósito aqui não é contar a história da guerra, mas sim, contar a história de uma família, uma história que coube a uma de seus integrantes, levar a frente.

“É sempre melhor um governo de padres do que o fascismo – dizia minha mãe. – Dá no mesmo! Você não entende que dá no mesmo! É a mesma coisa! – dizia meu pai”

Apesar de todo o horror que a guerra causou, uma das passagens mais interessantes é a que diz que ao seu fim, uma sensação de embriaguez surgiu, um período de calmaria e tédio, onde já não se tinha mais do que se esconder ou pra onde fugir. É curioso pensar como essas pessoas, pessoas que vivenciaram este período se sentiram antes, durante e depois da guerra.

Posso dizer por fim, que esta é uma experiência fantástica e deliciosa de se viver. Imagine-se sentado em uma varanda com alguém já idoso lhe contando suas histórias enquanto você bebe um chá quente e mordisca um lanche. “Léxico Familiar” entrou para os livros favoritos da minha lista, simplesmente por ser tão pessoal, tão puro, tão distante de preocupações em agradar ou desagradar ao leitor, mas em contar tudo como de fato aconteceu. Seria uma enorme “parvoíce” não se proporcionar tal experiência.

site: http://resenhandosonhos.com/lexico-familiar-natalia-guinzburg/
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Mila F. @delivroemlivro_ 19/06/2018

Interessante, mas pode ser que não empolgue todos os leitores
Lessico Famigliare (1963) no Brasil: Léxico Familiar foi escrito pela italiana Natalia Ginzburg autora também de outras obras, era pertencente a uma família judaica e antifascista.

Começo logo esta resenha assumindo que quando li a sinopse achei muito interessante o conteúdo do livro, mas não criei tantas expectativas, pois não conhecia a escritora e este seria meu primeiro contato com sua obra.

O fato é que foi uma feliz surpresa, pois acompanhar o cotidiano da família de Natalia através das Crônicas e de seus textos memorialísticos em plena a Segunda Guerra Mundial. Foi uma experiência bem envolvente, devorei o livro, pois havia partes e determinadas situações que eram bem gerais de todas as famílias, mas que Natalia contou de forma a ficarem engraçadas, além do mais, amei muito as tiradas, atitudes e espontaneidade do pai da escritora. Era um professor universitário e tinha resposta para tudo e uma opinião forte sobre qualquer assunto.

Mesmo sendo um livro memorialístico, que nós remete uma autobiografia também, não é necessário conhecer a vida ou ser fã da escritora para apreciar a leitura. Estou dizendo isso, pois teria leitores que achariam necessário conhecer a escritora para ler suas memórias. Não é.

Aliás, logo nas notas a própria Natalia alerta que Léxico Familiar pode ser lido como um romance, mesmo que nomes, pessoas e lugares sejam reais e, de fato, ler como um romance torna a leitura ainda mais singular.

Não obstante, ao que já expus, Léxico Familiar, tem características bem marcantes e impressionantes, é um livro que fica na mente da gente, pois o cotidiano das famílias, por mais que sejam privados, se assemelham e em várias situações podem ser tensos, alegres, triste e cheios de provações, além de ser divertido e desafiador "labutar" com as diversas personalidades das pessoas que vivem sob o mesmo teto é uma experiência indescritível e inesquecível.

Alerto, no entanto, que apesar de eu ter apreciado muitíssimo o livro, tenho plena certeza que ele não é indicado a todo tipo de público, pois exige do leitor uma apreciação além das palavras e traz uma atmosfera clássica, ou seja, ideal para leitores já mais proficientes e que apreciem os clássicos literários.



site: www.delivroemlivro.com.br
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douglaseralldo 08/04/2018

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE LÉXICO FAMILIAR, DE NATALIA GINZBURG OU MUITO ALÉM DAS PARVOÍCES
1 – Léxico Familiar é uma narrativa interessante e necessária em que os limites entre registro histórico e literatura são esgarçados, pois como a autora anuncia como advertência “neste livro, lugares, fatos e pessoas sãos reais” mas talvez “deva ser lido como se fosse um romance”. Tal informação mais do que relevante ao leitor que principia a narrativa, é demonstração do domínio de quem compreende a particularidade da própria obra, habitante das linhas limítrofes dos gêneros;

2 – É justamente esta característica que faz do livro uma ampla possibilidade de leituras e interpretações, e possibilita ainda que a narrativa dispare gatilhos das próprias memórias dos leitores, imbuídos a mergulharem em suas lembranças pessoais enquanto acompanha a história da autora. Assim o próprio leitor percorre sua identidade como faz a narradora;

3 – Natalia Ginzburg narra então sua própria experiência de tal forma como se fosse um romance memorialístico. Autora de diversos livros e cuja família judia fez parte da resistência antifascista na Itália pré e durante a Segunda Guerra, nesta obra com sutil leveza e uma sinceridade ingênua, capaz de expor defeitos e imperfeições tornam suas páginas bastante intimistas;

Completa: http://www.listasliterarias.com/2018/04/10-consideracoes-sobre-lexico-familiar.html

site: http://www.listasliterarias.com/2018/04/10-consideracoes-sobre-lexico-familiar.html
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/02/2018

Natalia Ginzburg - Léxico familiar
Editora Companhia das Letras - 256 Páginas - Tradução: Homero Freitas de Andrade - Prefácio de Alejandro Zambra - Lançamento no Brasil: 19/02/2018 (Publicação original: 1963).

Há livros que são muito difíceis de explicar, não pela complexidade do argumento ou virtuosismo técnico do autor, muito pelo contrário, justamente nas obras supostamente mais simples é que reside o problema de identificar a sutileza ou o truque de mágica que encanta e sensibiliza o leitor. Assim ocorre com "Léxico familiar" de Natalia Ginzburg (1916-1991). Começo a resenha e não encontro paralelo na literatura clássica ou contemporânea em que possa me apoiar para explicar esta obra por comparação, tenho que começar do zero.

A autora escreveu uma autobiografia afetiva, narrando detalhes do cotidiano de sua família, desde o início da década de 1930 na Itália, período de crescimento do fascismo de Mussolini, anterior à Segunda Grande Guerra, até o período de pós-guerra. Um período negro da história mundial, principalmente para uma família judia e simpatizante do socialismo. No entanto, a narrativa é sempre centrada no microcosmo familiar, testemunhada pelos olhos da autora desde o tempo de menina. A chave para o processo narrativo é a lembrança das palavras e frases que constituíam as relações entre o pai, a mãe e os cinco filhos. Portanto, o truque de Ginzburg é revelar os efeitos do mundo exterior neste núcleo familiar, como a vida vai se adaptando à partir das mudanças no cenário político da Itália e da Europa como um todo. Outra peculiaridade deste livro é contar somente com "lugares, fatos e pessoas reais", mas ao mesmo tempo flertar com a ficção, como ocorre com certa frequência nos relatos memorialistas.

"Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada: e toda vez que, nas pegadas do meu velho costume de romancista, inventava, logo me sentia impelida a destruir tudo o que inventara. (...) Escrevi apenas aquilo de que me lembrava. Por isso, se este livro for lido como uma crônica, será possível objetar que apresenta infinitas lacunas. Embora extraído da realidade, acho que deva ser lido como se fosse um romance: ou seja, sem exigir dele nada a mais, ou a menos, do que um romance pode oferecer. (...) Não sentia muita vontade de falar de mim. De fato, esta não é a minha história, mas antes, mesmo com vazios e lacunas, a história de minha família. Devo acrescentar que, no decorrer de minha infância e adolescência, propunha‑me sempre a escrever um livro que contasse sobre as pessoas que viviam, então, ao meu redor. Este, em parte, é aquele livro: mas só em parte, porque a memória é lábil, e porque os livros extraídos da realidade frequentemente não passam de tênues vislumbres e estilhaços de tudo o que vimos e ouvimos." - Advertência (Págs. 15 e 16)

Neste ponto da resenha, o leitor poderá estar imaginando que o relato de Natalia Ginzburg assemelha-se ao de Primo Levi (1919-1987), outro grande escritor italiano, que contou os horrores do nazismo e do holocausto. Aqui a comparação ajuda no sentido de oposição, pois os estilos são radicalmente diferentes. Em "Léxico familiar" a autora se recusa a assumir o papel de vítima, embora certamente o seja, ela evita descrever os detalhes das perseguições raciais ou a brutalidade da guerra, seus personagens são pessoas simples do povo, amigos, vizinhos e familiares. Embora, muitas vezes, sejam citados personalidades famosas da política e cultura italiana do século XX, tais como: Cesare Pavese (poeta e romancista), Giulio Einaudi (fundador da famosa editora), Carlo Levi (escritor e pintor), Leone Ginzburg (professor e tradutor) e muitos outros.

E, no entanto, como uma série de fragmentos de história familiares e frases perdidas pode originar uma narrativa tão original? A própria autora descreve a importância deste léxico particular no seguinte trecho: "Uma dessas frases ou palavras faria com que nós, irmãos, reconhecêssemos uns aos outros na escuridão de uma gruta, entre milhões de pessoas (...) Essas frases são o nosso latim, o vocabulário de nossos tempos idos, como os hieróglifos dos egípcios ou dos assírio-babilônicos, o testemunho de um núcleo vital que deixou de existir, mas que sobrevive em seus textos, salvos da fúria das águas, da corrupção do tempo". O trecho abaixo do posfácio de Ettore Finazzi-Agrò é a ajuda que preciso para descrever como funciona o estilo da "memória afetiva" ou "gramática sentimental":

"Nesta obra a lembrança se desenrola seguindo os fios da linguagem, contendo na fala termos e acentos que, sendo de todos, são no entanto particulares, identificam uma dimensão e a circunscrevem: é esta, talvez, a causa do grande fascínio promanado, ainda hoje, de 'Léxico familiar', ou seja, a capacidade de reconstruir um mundo perdido sobretudo graças à memória das palavras que nele habitavam e que ninguém fora dele poderia entender plenamente senão tendo à mão esta gramática sentimental, cuja linguagem é própria, pois comum, e se torna comum a partir do 'dialeto' compartilhado entre os membros da família. (...) E o texto se torna, assim, uma partitura, sinfonia de vozes e notas, de frases repetidas e de versos esmigalhados, reduzidos à pura alusão fônica." - Posfácio de Ettore Finazzi-Agrò - "O bordado da memória" (Pág. 243)

O livro, herança do acervo da extinta Editora Cosac Naify (Coleção Mulheres Modernistas), foi relançado agora pela Companhia das Letras com prefácio inédito de Alejandro Zambra, um escritor perfeito para apresentar o trabalho de Natalia Ginzburg, simples e essencial.
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Sid Dantas 28/12/2017

Um passeio delicioso pela família da autora
Esqueça a primeira resenha dizendo pra você saber sobre a autora para poder ler este livro.

Eu não sabia nada sobre a autora e devorei o livro em 2 dias.

Não é a história apenas da família da Natália mas de todos nós. Contada de uma maneira serena e divertida. O pai dela é uma figura.

Se você está na adolescência lendo Jojo Moyes, talvez esse não seja o livro pra vc, quem sabe daqui 15 anos.

LEIAM!!
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Gláucia 30/11/2015

Léxico Familiar - Natalia Ginzburg
Natalia nos conta suas memórias familiares, da infância à vida adulta, sem entrar em detalhes sobre sua história de vida, apenas nos contando pequenos episódios, anedotas familiares, retratos cotidianos que formam nossa vida, nosso passado.
Não conhecia a autora e após a leitura continuo sem saber grandes coisas sobre ela e foi justamente isso que me chamou a atenção. O livro foi escolhido para leitura do fórum e a princípio não tinha intenção de ler. Afinal, pra que ler um livro das memórias de alguém que nem sei quem é? Foi surpreendente como ler sobre a vida de um desconhecido mexeu tanto comigo, com minhas próprias memórias afetivas. Todos temos episódios parecidos, todos temos nosso léxico familiar, fatos e ditos que só fazem sentido para os membros de determinada família.
O livro foi publicado em 1965 e imagino que tenha sido dolorido para a autora escrever sobre esses pequenos acontecimentos que nos faz sentir tão saudosos... Apesar disso o tom do livro é de leveza, muito divertido e o tempo todo ficava comparando as situações narradas por ela com episódios semelhantes vividos em meu núcleo familiar.
Amei o pai dela, provavelmente por ser extremamente parecido com o meu próprio pai, em vários aspectos. Não posso deixar de parafrasear Tolstói no início de seu romance Anna Kariênina: todas as famílias italianas são iguais, mas todas as famílias italianas são italianas à sua maneira.
Michele 08/08/2017minha estante
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Sid Dantas 28/12/2017minha estante
Linda resenha Gláucia. Acabei de ler o livro e concordo com você. Expressou o que eu tinha vontade de escrever se realmente soubesse escrever! Parabéns!


Gláucia 28/12/2017minha estante
Ah obrigada. Me deu até vontade de reler...
Se você gostou desse livro imagino que também vá gostar de Anarquistas Graças a Deus da Zélia Gattai.




Aguinaldo 11/10/2015

léxico familiar
Semanas atrás, num daqueles espasmos pretensamente importantes de nossa industria cultural, houve um breve debate sobre os limites legais (na acepção jurídica do termo) da ficção e autoficção praticada por alguns escritores brasileiros contemporâneos. Logo alguma outra tonteria entrou na cardápio das redações e das mídias sociais e não se falou mais sobre autoficção. Historicamente falando a crítica literária atribui a um escritor francês, Serge Doubrovsky, a paternidade desse estilo de escrita onde se combina elementos de ficção e de autobiografia. As classificações servem sim para propósitos didáticos mas quase sempre restringem demais os conceitos. Paciência. Por mim todo e qualquer texto inventado e produzido pelos homo sapiens sapiens (desde que rastejamos assustados para fora de uma caverna) é sempre ficção e autobiografia. Claro, há aqueles que acreditam em origens e/ou inspiração divina e/ou mágica para muitos textos, mais não precisamos ser hermeneutas praticantes para interpretar que de uma narrativa se sabe apenas dos feitos e dos desejos dos homens. Natalia Ginzburg nos adverte (sim, adverte), logo na primeira página desse seu "Léxico familiar" que os lugares, fatos e pessoas nele são reais, não há nada inventado, mas que há lacunas suficientes no livro para que ele não possa ser lido (e ela sugere que deva ser assim) como um romance canônico, sem exigir dele nada que um romance não possa oferecer. Não há datas em seu livro, mas sabemos que ela nasceu em 1916, filha caçula com quatro irmãos, e que morreu em 1991. O que está registrado no livro começa com ela ainda menina, com dez, onze anos, e segue até meados dos anos 1950, quando de seu segundo casamento. O que no livro está registrado é basicamente o modo de vida de uma família burguesa e sofisticada (cujo pai é um professor universitário de origem judaica e cuja mãe é católica). Ela conta (discretamente seria uma definição, mas a imagem que tenho é que ela escreve como quem fala sem elevar nunca o tom de voz) as formas de relacionamento entre os membros desta família e suas conexões com uma sociedade italiana que se transformava rapidamente, sobretudo por conta das duas grandes guerras do século passado, da luta contra o fascismo e das discussões sobre a viabilidade da implantação do comunismo na Itália que se segue à guerra. Qualquer um que lembre de suas histórias familiares irá identificar vividamente os personagens/parentes de Natalia Ginzburg: o pai irascível porém amoroso; a mãe discreta e sábia; os irmãos que parecem ter sido trocados na maternidade, por terem temperamento demasiadamente distinto; os amigos algo misteriosos que se fundem à rotina familiar. Irá também reconhecer aquelas histórias típicas que nunca são contadas exatamente da mesma forma; os segredos que parecem importantes e depois se sabem ridículos; as tragédias pessoais que não se pode transferir ou purgar; o ruído nas conversações (tanto o literal quanto o metafórico); a força dos livros, da educação e da cultura. Muito bom. Fiquei até com vontade de reler "As pequenas virtudes" mas não, há outros livros dela por aí. Lembrei de muitas coisas lendo "Léxico familiar". Lembrei do Elias Canetti, do Pedro da Silva Nava, do Proust, dos tempos de São Bernardo, de uns primos distantes de meu pai em Ouro Preto, das histórias que meus pais me contaram (mas, aí de mim, que já se perderam ou se fundiram a outras, muitas delas inventadas em terras distantes, embaralhadas agora em minha memória.) E por fim Natalia Ginzburg me fez lembrar de um sujeito que num dos filmes do Woody Allen dizia: "A felicidade humana não faz parte do desenho da criação, (...) somos nós apenas, com nossa capacidade de amar, que damos sentido ao universo indiferente".
[início: 14/09/2015 - fim: 28/09/2015]
"Léxico familiar", Natália Ginzburg, tradução de Homero Freitas de Andrade, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2009), capa dura 16,5x22,5 cm., 240 págs., ISBN: 978-85- 7503-879-6 [edição original: Lessico famigliare (Turim: Einaudi) 1963]

site: http://guinamedici.blogspot.com.br/2015/10/lexico-familiar.html
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Lima Neto 28/04/2010

é sempre difícil se avaliar e se tecer um comentário quando se trata de uma obra biográfica, e mais ainda quanto esta é autobiográfica. normalmente, lemos livros desse gênero quando conhecemos bem o biografado ou quando ouvimos falar muito bem do livro.
no meu caso, com "Léxico Familiar", não foi uma coisa nem outra. da Natalia Ginzburg eu não havia lido nada e sabia muito pouca coisa sobre ela e também, sobre esse livro em específico, eu não possuia referência alguma. peguei-o para ler por um acaso, quando estava sem nada para ler. peguei o livro, olhei na parte de trás, a fim de obter alguma informação sobre a obra, mas o livro não possuia nada escrito (nem aqueles famosos comentários feitos por esse ou aquele autor de renome), assimo como não tinha nada escrito nas "orelhas", já que nem "orelha" o livro possui. intrigado, abri o livro nas primeiras páginas, para sentir um pouco a narrativa, ver a forma como a escritora iniciava a sua história. achei interessante a escrita, a forma como ela, ao relatar as primeiras lembranças de sua infância, colocava a sua questão familiar, mostrando um pai autoritário e preconceituoso, uma família que, embora nas aparências estava tudo bem, apresentava certas "desestruturação".
comecei a ler o livro com uma enorme expectativa e a medida que ia lendo, percebi o quão enganado eu fui com aquele "início arrasador". bem escrito, o livro é, sem dúvida, mas talvez só venha a ser verdadeiramente interessante para um alguém que conhece a autora, seja sua vida, seja sua obra. para um alguém como eu, leigo em Natalia Ginzburg, a obra adquire proporções de um livro longo, enfadonho, pouco atrativo, que o leitor reza para que acabe o quanto antes o capítulo para ir fazer alguma coisa, que não seja continuar naquela leitura.
coninuei, aos trancos e barrancos, a leitura, por desejar ver a forma como era explorado o pano de fundo histórico, ou, pelo menos, ver como terminaria aquela história. mas me arrependi, novamente, por ter dado continuidade à leitura. 1º, porque a parte histórica é mal explorada. temos uma noção, lógico, do que está acontecendo com aquela família, vendo as prisões dos parentes, amigos, os sumiços de um e de outro, a citação ao panorama mundial (e da Italia principalmente) acerca dos acontecimentos da época, mas, de maneira geral, isso tudo surge mais a título de citação do que de qualquer outra coisa. 2°... a história termina sem terminar direito. tem um fim tão brusco e repentino como foi o início.
a medida que o livro ia chegando ao fim, houve uma mescla de grande alívio, por percebê-lo tão perto do fim, com tormento, pois a história começa a ficar mais arrastada e longa do que já vinha se mostrando até então.

enfim, consegui terminar a leitura de "Léxico Familiar" aos trancos e barrancos com a sensação de que não pegarei, tão cedo, uma biografia de um alguém que não conheço, sem ter qualquer referência a respeito, e de não incluir Natalia Ginzburg nas minhas próximas leituras.
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Ju 13/09/2010minha estante
Gostei bastante do livro. Não por conhecer a autora nem a sua vida, mas por me identificar com as relações familiares, os pequenos detalhes, as lembranças, a maneira de se lembrar. Esse livro é para quem dá importância às pequenas delicadezas do convívio familiar. Seja de qualquer autor, italiano ou brasileiro, para mim as histórias familiares são sempre fascinantes.




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