Raphael 22/11/2014Stephen King é um escritor tão bem conceituado que mesmo quando escreve um livro ruim as pessoas, a meu ver, ficam com receio de dizer que o livro é ruim. O autor no entanto, merece a reputação que tem. Já escreveu muita coisa boa. Muita mesmo. Duma Key, por sua vez, é um livro ruim. Em certos momentos, com todo respeito ao S. King, chega a ser patético.
O ponto de partida aqui é um rapaz que sofreu um acidente, perdeu um braço e, em razão disso, aparentemente, desenvolveu um talento para a pintura. Os quadros pintados pelo protagonista repercutem diretamente na vida das pessoas que o cercam. Conforme a história vai se desenrolando, Edgar, o protagonista, passa a desvendar o mistério do seu talento repentino, que está diretamente relacionado com o local em que ele passou a morar após o acidente, região litorânea que dá título ao livro.
Stephen King é famoso pela criação de personagens. Em Duma Key, alguns são simpáticos sim, outros nem tanto, acho que a maioria deles, não é exagero dizer, são apenas medíocres. O vilão aqui, pasmem, é uma boneca. Essa boneca, no entanto, tem o "dom" de invocar um navio repleto de pessoas mortas (relembrando que o protagonista mora à beira-mar) e este talvez seja um dos únicos pontos positivos do livro. Edgar, ademais, também é um dos destaques: com o braço amputado, ele, invariavelmente, sente coceiras em seu braço direito, que não mais existe, e mete os dedos na costela quando lança o outro braço ali para aliviar a coceira. É um fato cômico que acontece dezenas de vezes no decorrer da história que, dentre outros motivos, faz com que a gente simpatize com ele.
No mais, ressalto que o livro é cansativo, nas primeiras 300 páginas quase nada acontece, a história é arrastada e os acontecimentos principais se desenvolvem praticamente tudo de uma vez, nos últimos capítulos. Stephen King escreve muito, será que ninguém mais acha isso? este livro, por exemplo, tem 660 páginas, acredito que 200 poderiam ser cortadas tranquilamente. Em determinado momento, a história toma um rumo patético, ali mais ou menos na metade do livro, e mesmo eu, mero leitor, pude perceber que o S.K. se perdeu na narrativa, criando explicações forçadas para acontecimentos desnecessários. Depois, no último terço do livro, a narrativa volta aos eixos o que salva Duma Key de ser um desastre total.
Sobre o clímax, ele é dividido em três partes. Duas delas achei bem interessantes. O desfecho aqui, é bem satisfatório e vai de encontro a fama deste escritor de errar a mão na conclusão de suas histórias. Um pouquinho antes do desfecho, acontece algo profundamente tocante ali à beira-mar, à luz da lua, e aquela cena entre pai e filha foi muito marcante, sendo o maior destaque do livro, a meu ver. Não entrarei em pormenores para não estragar a eventual leitura de quem ainda não leu e estiver lendo isso aqui.
Enfim, é um livro longo, chato na maioria das vezes, mas que tem alguns momentos que o salvam de ser um fracasso total. Sobre se deve ser lido ou não, acredito que valha a pena sim. Conforme salientado, a chatice é compensada por alguns momentos bons, o que não torna, entretanto, Duma Key um livro bom no todo. Stephen King escreveu coisas melhores. Bem melhores.