Jaqueline 10/12/2011Devo começar esta resenha dizendo que O Legado da Caça-Vampiro foi uma leitura surpreendente para mim. Lançado pela editora Jardim dos Livros, o livro chegou às minhas mãos em uma quinta-feira e não consegui largá-lo até terminar sua leitura no sábado.
Aos vinte anos de idade, Vitória Gardella é incumbida de uma missão das mais importantes: manter a tradição da família ao exterminar vampiros. Jovem e bela, ela deve aliar sua responsabilidade como venadora, termo usado para “caçador de vampiro” nesta saga, com seus deveres de moça casadoira do século XIX. Entre bailes, flertes, valsas e saraus, ela se veste de homem, prende seus lindos cabelos e perambula pelas ruas de Londres munida de estacas e água benta salgada. Hell yeah!
No universo criado pela autora Colleen Gleason, o primeiro vampiro do mundo foi Judas Iscariotes, que após trair Jesus Cristo por 30 moedas de prata, não aceitou o perdão divino e cometeu suicídio. Como consequência, Satanás enviou sua alma para perambular pela terra como um morto-vivo que precisa se alimentar de sangue para sobreviver - ou seja, um vampiro. Olhos vermelhos, caninos afiados, perversidade: essa é a forma verdadeira dos vampiros que sensualmente escolhem suas vítimas pelos salões e ruas londrinas em 1820. A maneira como a autora constrói seus vampiros se aproximada bastante da versão clássica do mito: eles não podem sair ao sol, só entram em residências após serem convidados, não suportam crucifixos e tampouco a prata (que, em uma explicação genial, é o metal que deu origem à desgraça de Judas).
A trama começa de forma impactante, com a descoberta de Vitória sobre o legado de sua família e a aceitação de sua missão sagrada de limpar o mundo dos lacaios de Lilith, a Escura. Após aceitar seu cargo de venadora, Vitória deve seguir as orientações de sua tia-avó Eustácia e se juntar ao também venador Maximiliano Pesaro para destruir uma lendária relíquia e dar cabo das horripilantes criaturas agora reunidas sob o comando da filha de Judas, a perversa Lilith. Ao receber seu vis bulla, uma peça de prata bem parecida com um piercing dos dias atuais, ela ganha poderes especiais e força, tornando-a implacável na luta. Aliás, este é outro ponto interessante na história: há muita ação e aventura em suas páginas, o que não significa que o romance e o drama ficam de fora.
A dificuldade de Vitória, uma protagonista cativante ao extremo, reside entre conciliar suas tarefas de caçadora com seus compromissos sociais como uma jovem debutante em busca de um marido de posição. Após dois anos de luto pela morte de seus familiares (que devem ter alguma relação com a trama, tenho certeza!), ela finalmente estreia na corte. Porém, seu lado mais impetuoso e independente sente toda a frustração de ser exibida de baile em baile como uma mercadoria. Quem entende bem este sentimento é Filipe de Lacy, o marquês de Rockeley. Um dos solteiros mais cobiçados da temporada, ele logo se envolve com Vitória, dando início a uma linda e trágica história de amor.
Filipe surpreende ao mostrar coragem e caráter, não ficando limitado ao status de mocinho bonito e bobo de um romance açucarado, e tudo o sentimos é uma enorme angústia por conta das decisões que nossa protagonista toma, mantendo seu legado escondido do amado. Por outro lado, um personagem que sabe tudo a respeito de todos é o misterioso e atrevido Sebastian Vioget, um dos ousados pretendentes de Vitória e dono da taverna Cálice de Prata. Lá, humanos e vampiros dividem o mesmo espaço e compartilham informações valiosas - o que nem sempre termina bem, como podemos atestar na reta final do livro. Nem um pouco confiável, ele mantém seus interesses ocultos e até o fim do livro não conseguimos decidir se ele é um dos mocinhos ou um dos vilões, ao contrário do sólido venador italiano Maximiliano. Max é um personagem tão forte e bem trabalhado que às vezes rouba a cena como protagonista. Seu desdém para a vida dupla que Vitória leva é marcante, o que logo cria uma forte e tensa "rivalidade amiga" entre os dois. As cenas que divide com Vitória, muitas delas repletas de ação, são sensacionais!
O final do livro sinceramente me pegou de surpresa, criando uma ansiedade enorme pela continuação da saga, que é composta por seis volumes. No entanto, não espere por um final feliz: a tragédia marca presença no final da história, cobrando seu quinhão da protagonista. Sem dúvida alguma, O Legado da Caça-Vampiro é um delicioso e instigante livro sobre vampiros como você nunca viu igual.
>>Resenha publicada no site www.up-brasil.com