Lise 23/05/2020Não é para entretenimentoA ideia de ser um daqueles poetas que eram possuídos por repentinos ataques de inspiração me repelia
Adam Gordon é um jovem poeta norte-americano que ganha uma bolsa de estudos em Madri para um projeto de pesquisa. Brilhante, instável , narcisista, tomado por um sentimento de alienação de si mesmo e inseguro com mulheres, se vê mergulhado em uma busca por autenticidade, girando em torno dos limites da linguagem.
Sendo ele mesmo o narrador, esforçado em expor a sua ideia de fracasso de si mesmo, logo o leitor se pega nutrindo sentimentos ruins em relação ao protagonista. Ele mente e cria uma aura de mistério em torno de sua própria pessoa para justificar o que julga nao entender da lingua espanhola e seu deslocamento em certos ambientes. Sua sinceridade ao leitor em expor suas farsas que enganam às personagens acaba por ser cativante.
No fim, dadas as circunstâncias , fiquei com o questionamento sobre a confiabilidade do narrador: se ele é realmente tão bom em seu autoconhecimento, qual a possibilidade de um final forjado, na esperança de deixar implícito uma síndrome de impostor curada a favor de seu narcisismo? Tenho muitas ideias sobre esse livro, a maioria, questionamentos sem nenhuma conclusão .
Particularmente, apesar de ter achado a obra, em sua ideia, genial em propor a discussão sobre linguagem e arte, sobretudo, me senti um pouco entediada durante a leitura; os parágrafos são longos demais, poucos acontecimentos ilustram as abstrações do narrador, tornando a leitura difícil. Nao é um livro para qualquer desavisado.