Gabi 19/04/2021
Nem muito sombria nem muito solitária maldição
A proposta do livro é muito mais interessante do que a maneira como ele foi desenvolvido.
A história gira majoritariamente em torno de três personagens: Harper, uma menina de Washington DC que sempre enfrentou dificuldades e teve que lidar com a constante subestimação deivdo à paralisia cerebral; Rhen, o príncipe herdeiro do Reino de Emberfall mimado-porém-não-tanto-assim-depois-que-você-conhece e Grey, o capitão da guarda com lealdade admirável e estoicismo cativante (é, ele é o melhor personagem mesmo). Sinto que em todos os três faltou profundidade e desenvolvimento.
De cara somos levados a um triângulo amoroso previsível, fraco, de onde nada vem nem sai, e que termina por ser completamente irrelevante para a história.
A maldição nos é apresentada em pedaços, sem nunca ter um real fechamento ou algum momento em que somos surpreendidos. A vilã é completamente sem sal e aparece apenas para fazer ameaçazinhas e birra. Nem toda a apelação para a tortura que ela faz com os dois conseguiu me convencer muito do quão terrível ela deveria ser.
Algumas cenas ficaram desconexas e não tiveram muita explicação, deixando claro o único objetivo ali de forçar o tom mais sombrio que o livro buscava, sem muito sucesso.
O relacionamento dos personagens também não cativa muito (mas um ponto positivo é que a mocinha não cai facilmente de amores pelo mocinho), embora eles tenham um desenvolvimento lento e gradual. Mesmo assim, não tive vontade de torcer pelo casal nenhuma vez. O que, em um livro com quase 500 páginas, é um pouco preocupante.
Apesar de baseada em "A Bela e a Fera", esperava que (mesmo com um fim e um começo mais ou menos já conhecidos) eu pudesse ser surpreendida com o desenrolar dos fatos e dos personagens. Não aconteceu. Inclusive, na intenção de se fazer um plot twist, temos informações reveladas mais para o fim do livro que, ao contrário da proposta, podem ser imediatamente desvendadas e tornam mais uma vez chata e plana a maneira como somos apresentados a tudo.
Geralmente, não tenho preferências para a voz do narrador, tanto faz se contado em primeira ou terceira pessoa, e devo destacar que a escrita da autora não é enfadonha. Aqui, porém, acho que um narrador mais distante poderia ter tornado as coisas melhores, deixado mais suspense e até acrescentado tensão no romance dos dois. (Sério, o melhor capítulo do Rhen é um em branco, ele não cativa)
Em suma, não acredito que valha a pena a leitura. E, apesar do final aberto e de ter gostado do Grey, duvido muito que eu volte na série para ler a continuação.