A Leitora Compulsiva 03/12/2023
Un livro que cura lentamente...
AVALIAÇÃO: ?????
Não sei o momento que parei e pensei: poxa, esse livro me faz um bem inestimável.
Mas deve ter sido a meio da leitura. Ou até mesmo no final. Não sei.
Uma coisa sobre literatura infantil: ela pode SEMPRE te enganar. Você quase sempre abre o livro achando que vai contar uma história bobinha. Mas acontece que os maiores ensinamentos que encontrei em livros, boa parte, veio de livros infantis. E este em especial é o tipo de livro infantil que atinge os adultos.
Nós acompanhamos a evolução de duas crianças que eram fracas, doentes e irritadiças para um estado total de melhora e rejuvenescimento com a ajuda da natureza, principalmente, como força-mãe de toda a narrativa.
E o ponto da autora foi justamente esse: o quanto estamos conectados com a natureza e o quanto nossas emoções são influenciadas por ela. Enquanto habitavam uma casa grande, vazia e triste, Colin e Mary foram crianças totalmente infelizes. A própria casa refletia o interior deles: sombria, escura, com animais tenebrosos rastejando nos cômodos velhos. Nem as plantas cresciam: eram mortas.
Mas quando foram melhorando e se tornando menos irritadiços, a constante exposição das crianças ao jardim as melhorou. E não demorou muito para que a própria casa onde estavam, os funcionários e o dono, sentissem as melhoras: ambientes escuros forma expostos à luz; um senso de limpeza varreu os cômodos e uma nova união alegrou a todos:
?Um sorriso foi se abrindo lentamente, e o velho jardineiro, de súbito, parecia outra pessoa. Mary pensou no quanto um sorriso pode transformar a aparência de alguém. Nunca tinha pensado nisso antes.?
E a autora também reserva um comentário especial sobre pensamentos, reforçando a necessidade de nos atentarmos para as coisas que entram em nossa mente, pois, na visão dela, todas essas coisas influenciam diretamente na nossa saúde como um todo:
?Permitir que um pensamento triste ou sombrio entre na cabeça é tão perigoso quanto deixar o germe da escarlatina penetrar no corpo. Se a gente o deixa ficar depois que ele entra, corre o risco de nunca mais se livrar dele pelo resto da vida.?
Também foi magnífico perceber as mudanças de estação dentro do livro, representando a evolução lenta dos personagens
Mary é uma criança que sai da Índia no pleno auge do verão, sofrendo todos os efeitos negativos do local. Se muda para a Inglaterra e é confrontada com um inverno e outono rigorosos, o inverno acompanhando o temperamento frio, melancólico e distante que ela tinha; o outono trazendo uma época de descobertas e mudança sutil de personalidade, para uma criança já mais aberta e exploradora, mas ainda reservada; e quando a primavera entra, todos eles já evoluíram: agora estão fortes, saudáveis e já amadurecidos.
Foi uma aventura emocionante, não pude dar menos que 5 estrelas. Não é um livro que contém adrenalina e aventuras como em livros de fantasia, e tem uma composição mais lenta, mais parada, com o objetivo de reflexão tranquila.
E justamente por isso, meu favorito. Amo livros que trazem essa inspiração calma, essa reflexão mais meditativa.
Vale a pena se aventurar em O Jardim Secreto se você gosta de uma literatura mais tranquila, com uma conexão completa com a natureza e se você quiser testemunhar o passar lento das estações do ano como símbolo de evolução pessoal. O tipo de livro pra ler num tempo chuvoso, com o som da chuva como guia para um rito de passagem ao mundo apresentado no livro. Não tem como se arrepender. E claro, aproveito pra deixar mais uma frase desse livro magnífico:
?Às vezes, quando estou no jardim, eu olho para o alto e vejo o céu por entre as árvores, e então tenho um estranho sentimento de felicidade, como se alguma coisa estivesse empurrando e brotando dentro do meu peito e me fazendo respirar mais rápido. (...) O coração fica em silêncio diante do estranho e imutável esplendor do nascer do sol, que vem acontecendo todas as manhãs há milhares e milhares de anos.?