Giovana 05/11/2019"O metabolismo é um processo de queima, uma fornalha ativa. Quando para de funcionar, a vida acaba"Na sociedade futurista da década de 90, as pessoas desenvolveram habilidades psíquicas, o que pode representar um perigo para muitas corporações. Para combater esses indivíduos, existem empresas que contratam funcionários que podem anular essas habilidades. Uma dessas empresas é a Runciter e Associados. Quando um poderoso Psi desaparece do radar, Glen Runciter se questiona se algo não estaria sendo tramado. Para ter uma segunda opinião e pensar no próximo passo, ele consulta sua esposa morta conservada em ‘meia-vida’, o que não ocorre como esperado. Voltando a agência ele é contratado para um caso de elevada atividade Psi na Lua. Embora contrate os melhores funcionários disponíveis, algo dá errado na missão e coisas estranhas começam a acontecer, desde mudanças temporais, deterioração física e bem, um misterioso spray Ubik que parece ter 1001 utilidades.
Sabe quando você vê uma obra de ficção científica e pensa “Ah, faz sentido isso”. Carros voadores ou dinossauros replicados em laboratório, por exemplo. Bom, Ubik foi minha segunda leitura do autor e posso afirmar que as histórias do Philip K. Dick são tão doidas que não é possível dizer o mesmo. A sensação que se tem ao ler é de que ele foi simplesmente escrevendo a história, conforme as ideias surgiam, sem pensar muito. Mas aí é que mora seu diferencial. E por mais simples que possa parecer à primeira vista, seu livro é muito mais complexo do que se possa imaginar.
Publicado em 1969, o livro imagina uma década de 90 bem mais tecnológica do que de fato o foi, e que explora principalmente habilidades e capacidades mentais. O que mais chama a atenção é o serviço de uma espécie de criogenia. Logo após a morte de um ente querido - caso você tenha dinheiro o suficiente, é claro - se você enviá-lo para um moratório ele poderá ficar em um estágio nomeado 'meia-vida', onde pode se comunicar com você, por um período limitado de tempo, falando por um tipo de telefone.
Além disso, uma parte da população nasce com capacidades psíquicas como telepatia, habilidade em prever o futuro ou alterar o passado; enquanto outra parte nasce justamente com a única habilidade de neutralizar esses poderes.
Em suma, é bastante informação e um mundo bem diferente que o autor nos apresenta. Por isso é comum que se demore um pouco para compreender quem é quem dentre os diversos personagens e pegar o ritmo da história, pois há sempre algo acontecendo. Mas todas essas coisas fazem sentidos mais a frente e o andamento acelerado da história faz com que a leitura não seja cansativa nem muito teórica demais (como ocorre em outros livros do gênero).
O livro é curto, tem pouco mais de 240 páginas, o que até parece, num primeiro momento, que não é o suficiente para explorar todas as coisas que citei acima, mas pra mim foi bem satisfatório. O autor não perde muito tempo descrevendo cenários ou personalidade dos personagens (o que, na minha opinião, foi um ponto positivo), então há tempo de sobra para criar a história e tecer uma gama de críticas e reflexões, dentre elas a incerteza sobre a realidade, nossa relação com a morte e as religiões, a evolução da tecnologia, ideologia política, a possibilidade de realidades paralelas e o consumismo.
Ubik é um livro pra quem gosta de reviravoltas e livros que nos fazem “explodir a mente” com grandes perguntas sobre a vida, o universo e tudo mais. Perfeito para quem é fã de filmes como Matrix e O Show de Truman. Se você gosta de sair da sua zona de conforto essa é uma boa opção de leitura, assim como se você ainda não conhece o autor acredito que seja um bom ponto de partida.
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